Israel

Chefe da secreta diz que Netanyahu o queria pôr a espiar manifestantes e parar julgamento

22 de abril 2025 - 14:13

Numa declaração ao Supremo, Bar conta ainda que a tentativa de o despedir se seguiu também a investigações sobre ligações de pessoal do gabinete do primeiro-ministro ao Qatar e sobre como o governo ignorou avisos de que poderia estar iminente um ataque do Hamas antes do 7 de outubro.

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Ronen Bar
Ronen Bar. Foto de GIL COHEN-MAGEN/EPA.

Ronen Bar, chefe do Shin Bet, os serviços secretos internos israelitas, enviou esta segunda-feira uma declaração ao Supremo Tribunal na qual liga a tentativa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de o despedir à sua recusa de pedidos para espiar manifestantes israelitas e de interferir no julgamento de corrupção de que este governante está a ser alvo.

Em março passado, Netanyahu avançava com a tentativa de afastar Bar. O governo alegou então o falhanço deste em prevenir os ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023. A oposição considerou, por outro lado, que se tratava de uma jogada política para tentar colocar os serviços de espionagem ao seu serviço. Seguiram-se protestos amplos em todo o país e acusações de que seria um golpe ilegal. O Supremo Tribunal acabaria por suspender a medida, faltando ainda um veredicto final sobre a sua legalidade.

Parte da declaração do chefe do Shin Bet que agora chegou àquela instância judicial é classificada. Mas do que é público, sabe-se que a versão de Bar é que as pressões para o afastar começaram um ano depois daqueles ataques e se seguiram às investigações do Shin Bet sobre fugas de documentos secretos que acabaram por ser divulgados nos meios de comunicação social, sobre o chamado Qatargate, a ligação entre elementos do gabinete do primeiro-ministro israelita e o Qatar, e sobre as responsabilidades do próprio Shin Bet no 7 de outubro. Esta última investigação, para além de revelar falhas internas que Bar aceita, garantindo que se demitirá por esta causa antes do final do mandato, também demonstrava que o governo israelita ignorou avisos de que poderia estar iminente um ataque e responsabilizava-o igualmente por falhas de segurança.

Já sobre a investigação às ligações do círculo próximo do chefe de governo com o Qatar, Bar afirma que implicaria uma falha de segurança grave que deve ser examinada meticulosamente, já que aquele país apoiaria o Hamas e isso “comprometeria em especial as negociações para a libertação dos reféns”.

A acrescer a isto estará a sua recusa em assinar um documento que impossibilitaria, por supostas razões de segurança, que Netanyahu testemunhasse no seu julgamento por corrupção e de instrumentalizar o Shin Bet contra os manifestantes anti-governo. O chefe do governo sionista terá, “em mais do que uma ocasião”, dito que esperava que os serviços secretos agissem contra manifestantes e que “providenciassem detalhes sobre as identidades de cidadãos israelitas” que se estavam a manifestar contra o seu executivo com foco especial em monitorizar “os financiadores dos protestos”.

De acordo com Bar, Netanyahu frequentemente colocava questões mais sensíveis no final das reuniões depois de fazer os seus assistentes e a estenógrafa sair da sala para evitar registos do que dizia. Numa delas, terá dito que “caso uma crise constitucional surja” deveria “obedecer ao primeiro-ministro e não ao Tribunal Superior de Justiça”. Netanyahu reagiu dizendo que se tratam de mentiras.