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Cessar-fogo celebrado em Gaza na primeira noite sem bombas

Israel e Hamas respeitaram o cessar-fogo acordado na quinta-feira. Em Israel, os críticos de Netanyahu questionam-se sobre a eficácia dos ataques. Nos EUA, congressistas democratas insurgem-se contra a venda de armas a Israel.
Festejos em Gaza após o cessar-fogo
Festejos em Gaza após o cessar-fogo. Foto Haitham Imad/EPA

Israel e o Hamas acordaram um cessar-fogo na quinta-feira e respeitaram os seus termos nas horas seguintes. Sem a ameaça das bombas da aviação israelita, a população de Gaza saiu à rua para festejar o que muitos consideram uma vitória, após onze dias que deixaram milhares de feridos e a morte de 232 palestinianos e 12 israelitas.

O cessar-fogo incondicional teve a mediação do Egito e foi anunciado primeiro por Netanyahu e horas depois pelo Hamas e a Jihad Islâmica. Mal foi anunciado, começaram os festejos no enclave martirizado nas últimas semanas. A repórter da Al-Jazeera Youmna al-Sayed diz que “para eles é como se começasse hoje a festa religiosa do Eid al-Fitr [o fim do Ramadão], já que a agressão começou antes do fim do Ramadão e não o conseguiram celebrar nessa altura”.

“É a vitória mais gloriosa, porque ao menos atingimos Telavive”, afirmou Ibrahim al Najjar, de 26 anos, ao New York Times, um sentimento partilhado por muitos dos presentes nas ruas de Gaza. “Foi a primeira vez que a resistência causou danos ao inimigo” e por isso “sinto que ganhámos”, concordou Ibrahim Hamdan, outro jovem com a mesma idade. Do outro lado da fronteira, a demonstração do poder de fogo e do longo alcance dos rockets do Hamas ficou evidente para os políticos e comentadores nos media israelitas. Muitos sublinharam que apesar de submeter Gaza ao bombardeamento mais intenso dos últimos sete anos, o Hamas continuou a disparar rockets sobre Israel até aos momentos que antecederam o anúncio do cessar-fogo.

“Com o melhor serviço de informações e a melhor força aérea do mundo, Netanyahu conseguiu obter do Hamas um ‘cessar-fogo incondicional’. É vergonhoso”, disse Gideon Saar, ex-ministro do Likud e agora líder do partido Nova Esperança, citado pelo New York Times. Quanto ao principal adversário de Netanyahu, que ainda tenta negociar uma aliança para o tirar do poder, fez saber nas redes sociais que “o exército foi bem sucedido, mas o Governo falhou”. Yair Lapid elogiou a eficácia do sistema anti-mísseis Iron Dome, que evitou maiores estragos do lado israelita, mas acusou Netanyahu de não ter assegurado o regresso dos soldados capturados pelo Hamas nem a defesa das populações junto à fronteira.

Enquanto se festejava nas ruas de Gaza, milhares de famílias realojadas nas escolas da ONU, muitas delas sem água nem eletricidade, começaram a regressar ao que resta das suas casas. Terão agora de esperar que o bloqueio israelita permita a entrada dos materiais de construção e que esteja em marcha o mecanismo de financiamento para a enésima reconstrução de Gaza.

Na mensagem em que se felicitou pelo cessar-fogo e agradeceu ao Egito e Qatar pelo papel desempenhado nas negociações, o secretário-geral da ONU afirmou que a comunidade internacional deve agora trabalhar com as Nações Unidas na construção de “um pacote de apoio robusto para a reconstrução e recuperação sustentável, que apoie o povo palestiniano e reforce as suas instituições”. António Guterres apelou ainda ao regresso às negociações para “acabar com a ocupação e permitir a realização de uma solução de dois Estados na base das fronteiras de 1967, das resoluções da ONU, da lei internacional e dos acordos mútuos”.

Ocasio-Cortez e Bernie Sanders apresentam moção contra venda de armas a Israel

Pouco antes do início dos lançamentos de rockets e dos bombardeamentos em Gaza, o Congresso norte-americano foi notificado de um acordo de venda de armas a Israel no valor de 735 milhões de dólares.

O escândalo deste anúncio numa altura em que Israel matava centenas de civis e crianças em Gaza levou alguns congressistas do Partido Democrata na Câmara dos Representantes a apresentarem uma iniciativa para travar o negócio. Uma delas é Alexandria Ocasio-Cortez, para quem “os EUA não deviam carimbar a venda de armas ao Governo israelita quando este utiliza os nossos recursos para bombardear meios de comunicação internacionais, escolas, hospitais, missões humanitárias e casas de civis”.

Esta quinta-feira, o assunto chegou ao Senado através de uma proposta do senador Bernie Sanders, na forma de moção contra a venda de armas a Israel.

“Num momento em que bombas fabricadas nos EUA estão a devastar Gaza e a matar mulheres e crianças, não podemos simplesmente permitir que um outro grande acordo de venda de armas avance sem haver um debate no Congresso”, afirmou Bernie no Twitter, dizendo acreditar que “os EUA devem ajudar a indicar o caminho para um futuro pacífico e próspero para israelitas e palestinianos”.

“Precisamos de avaliar se a venda destas armas está realmente a ajudar a isso ou se está simplesmente a alimentar o conflito”, concluiu o senador.
 

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