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Carles Puigdemont abre processo de independência da Catalunha
A declaração do líder do governo da Catalunha estava agendada para as 17h (hora de Lisboa), contudo, a mesma só teve início por volta das 18h19. No exterior do Parlamento, o reforço dos meios policiais era notório, com milhares de Mossos d'Esquadra na rua e helicópteros a sobrevoar o local. A imprensa também focou a sua atenção na Catalunha, com mais de 1000 jornalistas creditados no Parlamento catalão. A sobrecarga de comunicações, quer entre os media, quer entre as autoridades, terá causado algumas perturbações na transmissão de imagens a partir do interior do Parlamento.
Entretanto, milhares de pessoas aguardavam com expectativa nas ruas a declaração de Carles Puigdemont.
“Vivemos um momento excepcional de dimensão histórica”
Puigdemont compareceu perante o Parlamento para “explicar as consequências do Referendo de 1 de outubro”: "Não esperem ameaças, nem insultos da minha parte. O que vos vou expor hoje não é uma agenda pessoal, é o resultado do 1 de outubro”.
“Vivemos um momento excecional de dimensão histórica”, afirmou o líder do governo da Catalunha, frisando que as “consequências vão muito além do nosso país”.
“A Catalunha é um problema europeu”, acrescentou.
Destacando que este é um “momento demasiado sério”, e que cabe a cada um assumir as suas responsabilidades, Puigdemont assinalou a necessidade de não contribuir para aumentar a tensão, e garantiu que o seu “governo não se afastará da democracia, da tolerância e do respeito”.
Carles Puigdemont lembrou que os catalães se pronunciaram no passado domingo e fizeram-no “em condições extremas”, no meio de “violentos ataques policiais”, que causaram 800 feridos. Segundo o líder do governo catalão, a atuação do Governo espanhol tem vindo a causar “inquietação e tensão na sociedade catalã”.
“Catalunha ganhou o direito a ser um Estado independente”
A “Catalunha ganhou o direito a ser um Estado independente”, sublinhou o governante.
Frisando que o resultado da votação não será esquecido, Puigdemont afirmou que assume o “mandato do povo para que a Catalunha se converta num Estado independente em forma de República".
“Isto é o que hoje fazemos com toda a solenidade, por responsabilidade e por respeito”, sublinhou, adiantando que, “com a mesma solenidade, propomos que o Parlamento suspenda os efeitos da declaração de independência para que, nas próximas semanas, empreendamos um diálogo sem o qual não é possível chegar a uma solução concertada”.
“Cremos firmemente que o momento pede, não só o alívio da tensão, como também, e sobretudo, a vontade clara e comprometida para avançar nas reivindicações do povo da Catalunha a partir do resultado do 1 de outubro; resultado que devemos ter em conta de forma imprescindível na etapa de diálogo que estamos dispostos a abrir”, acrescentou.
“Os apelos ao diálogo e à não violência surgiram de todos os cantos do planeta”
Carles Puigdemont recordou que, logo no dia seguinte ao referendo, surgiram várias “iniciativas de mediação, de diálogo e de negociação a nível nacional, estatal e internacional”: “Algumas destas são públicas; outras não o são, mas tornar-se-ão públicas. Todas são muito sérias e eram difíceis de imaginar há pouco tempo”, apontou.
“Os apelos ao diálogo e à não violência surgiram de todos os cantos do planeta: a declaração que fez ontem o grupo de oito prémios Nobel da Paz, a que fez [a organização internacional fundada em 2007 pelo líder sul-africano Nelson Mandela] The Elders - à frente da qual está o ex-secretário geral de Nações Unidas Kofi Annan, e da qual fazem parte personalidades de grande relevância mundial -, os posicionamentos de presidentes e primeiros ministros de países europeus, de líderes políticos europeus”, assinalou o líder do governo catalão.
Segundo Puigdemont, “há um apelo ao diálogo que percorre a Europa. Porque a Europa já se sente interpelada sobre os efeitos que pode ter uma má resolução deste conflito. Todas estas vozes merecem ser escutadas e todas, sem excepção, nos pediram que abramos um tempo para dar uma oportunidade de diálogo com o Estado espanhol”.
O governante deixou um apelo aos cidadãos da Catalunha para que “continuem a expressar-se como fizeram até agora, com liberdade e com respeito pelos que pensam de forma diferente”. “Às empresas e atores económicos” deixou também uma mensagem: “Peço-lhes que continuem a gerar riqueza e que não caiam na tentação de utilizar o seu poder para amedrontar a população”.
“Às forças políticas peço-lhes que contribuam com as suas palavras e as suas ações para baixar a tensão. Faço o mesmo pedido aos meios de comunicação. Ao Governo espanhol peço-lhe que ouça, já não a nós, se não quer, mas a quem apela à mediação e à comunidade internacional, e aos milhões de cidadãos de toda Espanha que lhe pedem que renuncie à repressão e à imposição”, continuou.
Puigdemont apelou ainda à União Europeia que desempenhe o seu papel, e se “reja pelos valores fundacionais da União”.
“Hoje o Governo de Catalunha faz um gesto de responsabilidade e generosidade, e volta a estender a mão ao diálogo. Estou convencido de que, se nos próximos dias todos atuarem com a mesma responsabilidade e cumprirem com as suas obrigações, o conflito entre a Catalunha e o Estado espanhol se pode resolver de maneira serena e concertada, e respeitando a vontade dos cidadãos”, vincou.
Segundo avança o El Diario, os deputados da CUP mantiveram-se sentados e sem aplaudir no final do discurso de Carles Puigdemont, ao contrário do que aconteceu com os deputados do Junts pel Sí, que o aplaudiram de pé.
Declaração de independência da Catalunha já foi assinada
Numa cerimónia no parlamento catalão, o primeiro a assinar a declaração de independência da Catalunha foi Carles Puigdemonte depois seguiram-se 73 deputados independentistas.
Comentários
E se os algarvios decidissem
E se os algarvios decidissem referendar a independência do Algarve, e os alentejanos do Alentejo, e os minhotos do Minho?
Se não servir para a
Se não servir para a independência, o referendo na Catalunha pelo menos serviu para perceber como há elementos da nossa sociedade que aparentam ser perfeitamente pacíficos, mas que seriam os primeiros a mandar a polícia carregar violentamente sobre os seus compatriotas algarvios, alentejanos ou minhotos, caso estes "decidissem" (já se elegem parlamentos e governos regionais no Algarve, Alentejo e Minho?) votar num referendo sobre a sua autodeterminação.
Paulo, tem toda a razão no
Paulo, tem toda a razão no que diz. A defesa da liberdade e dos direitos humanos não tem fronteiras. Quem justifica a repressão na Catalunha, a pretexto de movimentos independentistas hipotéticos em Portugal, além de estar a pretender comparar o incomparável, mostra uma faceta nada democrática. Não seria muito mais lógico comparar com o que sucedeu na Escócia ou no Quebeque?
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