Habitação

Cais do Ginjal: “Não podemos criar uma crise em cima de outra crise, deixando as pessoas na rua”

11 de abril 2025 - 21:20

Joana Mortágua esteve com as pessoas retiradas pela Câmara de Almada do Cais do Ginjal. E diz que estes casos vão multiplicar-se se não for travada a crise da habitação.

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Joana Mortágua com moradoras do Cais do Ginjal no pavilhão que serve de realojamento de emergência
Joana Mortágua com moradoras do Cais do Ginjal no pavilhão que serve de realojamento de emergência. Fot João Carvalho.

Dezenas de moradores do Cais do Ginjal foram retirados na quinta-feira pelos serviços da Câmara Municipal de Almada daquele que foi o seu teto, nalguns casos, por mais de três décadas. O estado degradado dos edifícios daquela zona abandonada e o risco de derrocada foram as razões para a autarquia mandar retirar as pessoas daquela zona, que acabaram por fazê-lo de forma contrariada.

Esta sexta-feira, a deputada bloquista e vereadora em Almada Joana Mortágua esteve com os habitantes no pavilhão escolar que serviu de alojamento de emergência na noite passada e servirá nos próximos dias. As famílias com crianças foram entretanto colocadas em hosteis ou pensões.

“Aquilo que nos preocupa neste momento é o futuro destas pessoas”, afirmou Joana Mortágua E isso passa por “garantir que as pessoas saem destas situações de emergência para condições de habitabilidade com um mínimo de dignidade”. A vereadora e deputada bloquista diz que “não vamos largar esta situação” e não quer ver repetido o caso do realojamento dos moradores do Segundo Torrão, em que “a Câmara Municipal não teve a melhor atitude e a Amnistia Internacional classificou-o de desumano”.

Funcionários da CM Almada vedam acesso ao Cais do Ginjal
Funcionários da CM Almada vedam acesso ao Cais do Ginjal. Foto João Carvalho.

Joana Mortágua chamou ainda a atenção para a multiplicação de situações como esta, em que “a crise da habitação empurrou pessoas trabalhadora ou para quem a vida foi muito difícil, para situações de habitação sem condições”, seja no Cais do Ginjal, no Segundo Torrão ou no bairro da Penajoia, só para dar exemplos do concelho de Almada. E enquanto a crise da habitação não for travada, “vamos continuar a descobrir que há pessoas a viver em fábricas abandonadas, terrenos abandonados, mães que não conseguem sair do hospital porque a casa não tem condições”.

“Não podemos criar uma crise em cima de outra crise, deixando as pessoas na rua”, alertou a vereadora, defendendo que a autarquia acione mecanismos nacionais. No entanto, lembra que “o IHRU tem falhado em todas as respostas que são necessárias de cada vez que é preciso fazer um realojamento deste tipo”.

“Ninguém mora sem condições porque quer”

Na situação concreta do Cais do Ginjal, Joana Mortágua recordou que aquele terreno “foi abandonado durante décadas e os territórios quando ficam abandonados não ficam vazios, são ocupados por pessoas que lhes dão vida. Há uma comunidade que fez ali um espaço artístico, fez amigos, comunidade, vizinhança”. Por isso, “a reabilitação do cais do Ginjal é absolutamente prioritária para que as pessoas consigam lá viver”.

“Ninguém mora sem condições porque quer. As pessoas moram sem condições porque não têm alternativa”, sublinhou Joana Mortágua, reconhecendo que apesar de muitas pessoas terem dificuldade em identificar-se com estes moradores agora realojados, devem lembrar-se que “aquilo que mandou estas pessoas para casas que não têm condições é a mesma crise da habitação que está a consumir o salário de tantas famílias trabalhadoras”. E que se os preços das rendas não forem travados, também elas vão correr sério risco de ter de encontrar uma habitação alternativa como aconteceu a estas pessoas.

Para o evitar, “é preciso controlar as rendas e ter habitação pública, só assim travamos a multiplicação destes casos”, concluiu.