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Buraco do BPN já vai em 5443 milhões

O valor pago pelos contribuintes para nacionalizar e reprivatizar o BPN dava para cobrir a consolidação orçamental que aumentou impostos e cortou salários e subsídios de natal em 2011. Mas o PSD e o CDS vão chumbar a proposta duma comissão de inquérito que descubra para onde foi o dinheiro e se há favorecimento aos angolanos do BIC, os novos donos do BPN.
O dinheiro enterrado no BPN era suficiente para cobrir a consolidação orçamental do ano passado. Fotomontagem de bpn4900milhoes.com

O Bloco de Esquerda apresentou a proposta de uma Comissão de Inquérito que respondesse a algumas perguntas fundamentais, formuladas esta quinta-feira no plenário parlamentar por João Semedo: "Como foi gasto este dinheiro, em que operações financeiras foi aplicado, que compromissos foram liquidados, que irregularidades antigas foram limpas com este dinheiro?". Durante o governo Sócrates, o deputado bloquista destacou-se nos trabalhos da Comissão de Inquérito feita durante a nacionalização e divulgou as conclusões do Bloco numa publicação intitulada "A Fraude do Século".

Semedo fez as contas ao dinheiro posto pelos Governos do PS e do PSD/CDS no buraco do BPN: "4500 milhões de euros em dívida garantida pelo Estado ao BPN e participadas até 1 de Julho de 2011 e 146,6 milhões de euros em execução de garantias de empréstimos obrigacionistas das sociedades veículo criadas pelo Tesouro". Um valor que não ficará por aqui, caso se concretize a venda aos angolanos do BIC, banco liderado por um ex-ministro de Cavaco, Mira Amaral.

"Se a venda ao BIC se concretizar, o estado pagará mais 600 milhões de euros pela recapitalização BPN, acordada no âmbito do processo de privatização do BPN e já realizada, e mais 167 milhões de euros em provisão para crédito mal parado, acordada no âmbito do processo de privatização do BPN. E para indemnizar 830 trabalhadores, serão mais 25 milhões", apontou Semedo.

5443 milhões de euros. "É este o valor que ameaça e se abate sobre as contas públicas e sobre o bolso dos contribuintes portugueses que são quem está a pagar este monumental buraco", prosseguiu o deputado bloquista, antes de retirar deste total os "40 milhões de gorjeta" que o BIC irá pagar ao Estado para este "entregar ao BIC um BPN limpinho e lavadinho pronto a faturar".

Como nem o atual nem o anterior Governo quiseram explicar aos contribuintes, através duma auditoria, a necessidade do dinheiro gasto na nacionalização e reprivatização do BPN, o Bloco votou a favor da proposta do PCP. "Se a propusemos há um ano, se ela era necessária há um ano, um ano depois, por maioria de razão, a auditoria continua a ser necessária", explicou João Semedo.

O negócio com o BIC também está debaixo da mira do Bloco de Esquerda, uma vez que o banco de Mira Amaral será dono de um BPN com 1800 milhões em depósitos e 2200 milhões em créditos, que foi recentemente refinanciado pelo Estado com 600 milhões, para além dos 167 milhões disponibilizados para fazer face ao crédito malparado.

"Para ser mais claro, o governo entrega 767 milhões ao BIC para o BIC comprar o BPN por 40 milhões. Não há muitos negócios como este", acrescentou Semedo, questionando-se sobre a razão de PSD e CDS "fugirem como diabo da cruz da comissão de inquérito proposta pelo Bloco".

"A história do BPN é longa e acidentada mas resume-se em poucas palavras: uns andaram a roubar, outros deixaram roubar, outros ainda vão ficar a ganhar no final de tudo isto", concluiu o deputado do Bloco, para quem a direita e o Governo "querem o povo a pagar o prejuízo e o parlamento a assobiar para o lado", com o chumbo anunciado desta Comissão de Inquérito ao BPN.

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