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Bruto da Costa: Os ricos “estão a rir-se do que está a acontecer no país”

O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz diz que o Orçamento de Estado não aproveita a crise para reduzir a desigualdade e entende que os «muito ricos não são atingidos pelas medidas». E os governadores do Banco de Portugal entre 1975 e 1983 dizem que a austeridade proposta pelo governo é "muito mais forte" que a do FMI em 1983.
Alfredo Bruto da Costa diz que a seguir à crise, a repartição do rendimento em Portugal será tão injusta quanto tem sido até aqui.

"As pessoas muito ricas em Portugal não são atingidas pelas medidas de austeridade na mesma proporção como são as outras famílias, designadamente as famílias de rendimento médio e médio baixo", disse Alfredo Bruto da Costa à Antena 1. Para o economista e investigador na área da pobreza, a austeridade "é uma expressão que nós ouvimos da boca dos políticos como se realmente todos fossem pagar equitativamente, e isso não é verdade".

«Todo o tipo de medidas que temos tido e vamos ter são medidas que não alteram o padrão da desigualdade e portanto, para mim, infelizmente, o tipo de sociedade, nas suas características principais da repartição do rendimento que vamos ter depois da crise, vai ser muito igual à que tínhamos tido», previu Bruto da Costa em declarações à TSF.

O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz lamenta ainda que não se vá "aproveitar a crise para introduzir alterações de fundo para reduzir a desigualdade". Para Bruto da Costa, embora o contributo dos mais ricos «não tenha uma expressão muito grande em termos de indicadores nacionais, por uma razão de solidariedade deviam pagar proporcionalmente aos seus rendimentos e riquezas».

Outra crítica à injustiça dos cortes propostos pelo Governo veio de Jacinto Numes, que governou o Banco de Portugal na primeira metade dos anos 80, diz que “esperava um choque, mas não um choque tão forte” como o anunciado por Passos Coelho. “Seria mais justo que todos pagassem e não apenas os pensionistas e os funcionários públicos”, defendeu o economista em declarações ao Jornal de Negócios. Para Silva Lopes, que o antecedeu à frente do Banco de Portugal, o "não tem qualquer comparação com a austeridade" de outros tempos, em que o ajustamento foi “feito essencialmente com base na desvalorização cambial e numa subidas das taxas de juro. Agora faz-se tudo através do Orçamento”, diz Silva Lopes, enquanto “na altura usámos essencialmente a política monetária que controlávamos”, explicou.

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