Está aqui
Brasil: povos indígenas denunciam política genocida de Bolsonaro
Foram mais de 600 os líderes indígenas que se juntaram esta sexta-feira no estado de Mato Grosso, em Piaraçu, uma localidade nas margens do rio Xingu, no meio da floresta, longe dos centros urbanos.
Os participantes reuniram-se em torno do chefe Kayapó Raoni Metuktire para denunciarem a política de “genocídio, etnocídio e ecocídio” levada a cabo pelo governo Bolsonaro. O grupo de líderes tem mais de 45 etnias diferentes e criticou o projeto de lei que tenciona permitir a exploração mineira em terras indígenas, mesmo sem a aprovação dos habitantes daquelas terras, acusando o governo de ameaçar, com as suas políticas, o seu modo de vida. E fê-lo de forma peremptória, afirmando que Bolsonaro “ameaça os nossos direitos, a nossa saúde e o nosso território”.
“Não aceitamos a mineração nas nossas terras, madeireiros, pescadores ilegais ou hidroeletricidade. Somos contra qualquer coisa que destrua a floresta”, pode ler-se no documento aprovado, que foi lido em português e nas línguas indígenas de Piaraçu.
Bolsonaro tenciona rever a demarcação de terras indígenas de forma a permitir o garimpo e a exploração dos recursos naturais, afirmando que é necessário “um novo modelo de desenvolvimento indígena”. Tendo em conta todos os exemplos de ameaças e discursos de ódio por parte da presidência de Bolsonaro, não será de espantar que os líderes indígenas já tenham criticado as posições e os incentivos do governo à violência contra os povos indígenas e os assassínios dos líderes. Assim, enfrentam não apenas o governo, mas também uma parte da sociedade que não tem pruridos em expressar o seu racismo. O resultado está à vista: só em 2019, houve pelo menos oito assassinatos de líderes indígenas, três deles em menos de uma semana.
O chefe Raoni, que Bolsonaro tem tentado descredibilizar, desacreditando o estatuto do cacique, pretende levar o manifesto ao Congresso nacional em Brasília.
Entretanto, especialistas brasileiros que trabalham sobre a política de proteção indígena já tinham alertado para genocídio de tribos indígenas isoladas, por cortes de investimentos na área e por interferências “ideológicas” na atuação da Funai .
Técnicos ligados à política indígena e ex-coordenadores-gerais da divisão de Índios Isolados e de Recente Contacto da Direção de Proteção Territorial da Funai lançaram em outubro de 2019 uma carta aberta em que criticavam a exoneração de Bruno Pereira, indígena responsável por chefiar o departamento de tribos isoladas. De acordo com os mesmos, estava, e está, em curso um programa que passava por cortes de investimentos na área e “interferências idológicas”, que deriva num “genocídio em curso”.
“O Brasil é um dos países de maior diversidade étnica do mundo, e com o maior número de registo de povos isolados, conferindo, assim, grande riqueza cultural ao país. A atuação nessa área exige conhecimento especializado (...). Isso ocorre, pois os povos indígenas isolados e de recente contacto estão submetidos a um imenso leque de vetores de vulnerabilidade, tal que uma simples gripe pode causar fulminantes processos de extermínio, assim a história tem comprovado”, pode ler-se na carta divulgada por especialistas sertanistas e indígenas.
Adicionar novo comentário