A crise política na Bolívia continua, após os resultados oficiais terem dado a reeleição de Evo Morales na chefia do Estado por uma curta margem em relação aos dez pontos de vantagem necessários para evitar a segunda volta.
Nas ruas de La Paz e outras cidades, continuam as manifestações e bloqueios de estrada promovidos pela oposição para pedir a anulação da eleição, mas também concentrações de apoiantes do MAS, o partido de Morales, em apoio do presidente e desimpedindo as ruas das barricadas dos opositores. Os confrontos já fizeram dois mortos e 140 feridos desde o dia seguinte às eleições de 20 de outubro.
Na quarta-feira, o governo boliviano e a Organização dos Estados Americanos acordaram a realização de um inquérito internacional independente às eleições, cujas conclusões sejam vinculativas para todas as partes. Mas o segundo candidato mais votado, Carlos Mesa, já fez saber que não as aceitará e continua a reclamar novas eleições. Mesa afirma que o acordo foi feito “unilateralmente” pelo governo, sem a participação dos restantes partidos ou da sociedade civil. Por seu lado, Evo Morales apelou à oposição para que interrompa os protestos enquanto a investigação decorre.
Queremos decirle al pueblo boliviano que somos transparentes y no tenemos nada que ocultar. Que se verifique si hubo fraude o no. Les pido que se abra un cuarto intermedio en las movilizaciones hasta que concluya la auditoría. No nos enfrentemos entre bolivianos. pic.twitter.com/ZpkgZYYjVQ
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) October 31, 2019
Apenas um dia depois do início do inquérito, a missão internacional sofreu a primeira baixa, e logo a do seu chefe. O jurista mexicano Arturo Espinosa havia publicado na semana anterior um artigo de opinião sobre as eleições bolivianas, em que acusava Evo Morales de querer manter-se no poder a qualquer custo. Espinosa anunciou a sua demissão “para não comprometer a imparcialidade do processo”, que deverá durar duas semanas.
Entretanto, a oposição a Evo Morales organiza greves e manifesta-se nas ruas e realiza assembleias populares [cabildos] com milhares de pessoas, o que nem sempre é bom sinal para Carlos Mesa, que tem perdido apoios nas últimas semanas. Esta radicalização ficou bem patente no resultado de uma dessas assembleias em La Paz, que aprovou na quinta-feira uma resolução a apelar à repetição das eleições sem Evo Morales... nem Carlos Mesa.
CABILDO EN LA PAZ EXIGE RENUNCIA DEL PRESIDENTE Y DECIDE 'NI MESA NI EVO MORALES’https://t.co/202zK5AarG pic.twitter.com/A1ImlE004S
— Bolivia Prensa (@boliviaprensa) November 1, 2019