Banca

Bloco sublinha contradição do Governo na compra do Novo Banco pela Caixa

31 de janeiro 2025 - 14:16

Mariana Mortágua lembrou que a solução de a Caixa ficar com o Novo Banco foi a que o Bloco defendeu desde o início. Mas quer saber porque é que o Estado teve de pagar três vezes para que isso possa vir a acontecer. E também comentou a revelação da compra da Global Media por um fundo ligado a Álvaro Sobrinho.

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Novo Banco
Foto de Paulete Matos.

A coordenadora do Bloco reagiu às notícias que dão conta da intenção do Governo em dar instruções à Caixa Geral de Depósitos para entrar na corrida à compra do Novo Banco. Em conferência de imprensa no Parlamento, começou por dizer que o Governo que “diz que não quer ter qualquer interferência na economia e qualquer tipo de política industrial contradiz-se a si próprio ao determinar que a Caixa tente comprar o Novo Banco”.

Quanto à decisão em si, Mariana concorda e lembra que “desde há muito tempo que o Bloco defendeu que a Caixa pudesse ter ficado com o Novo Banco para absorver a parte do negócio dirigido às empresas”. E que neste momento, “se não for a Caixa a ficar com o Novo Banco, a concentração de mercado que vamos ter será nas mãos de um grupo estrangeiro presente em Portugal, que só têm duas origens, espanhola e angolana”.

No entanto, a coordenadora bloquista acrescenta que é altura de fazer um balanço de todo o processo e que esse balanço é oneroso para o Estado: “O Estado limpou o BES, a seguir entregou-o de mão beijada à Lone Star, depois pagou milhares de milhões de euros para limpar o banco já nas mãos da Lone Star, e agora vai recomprar o banco à Lone Star. Ou seja, o Estado vai pagar três vezes”, apontou Mariana Mortágua.

Mariana Mortágua anunciou que o Bloco irá chamar o ministro das Finanças ao Parlamento para dar explicações sobre esta orientação, mas também para obter garantias de que “à boleia desta intenção de comprar o Novo Banco não vem nenhuma intenção de privatização total ou parcial escondida” da Caixa Geral de Depósitos, uma intenção manifestada pelo PSD no passado.

“Se há pessoa sem idoneidade em Portugal, é Álvaro Sobrinho”

Mariana Mortágua referiu-se também à notícia de que o ex-banqueiro angolano Álvaro Sobrinho, acusado de crimes financeiros pela justiça portuguesa, estava por trás do fundo que adquiriu em 2023 a maioria do capital da Global Media à empresa de Marco Galinha.

“Se há pessoa sem idoneidade em Portugal, é Álvaro Sobrinho”, afirmou a coordenadora do Bloco, recordando o “longo cadastro” do antigo líder do BES Angola na justiça portuguesa. Assim, “que tenha conseguido de forma disfarçada entrar num fundo internacional para ser acionista de um grande grupo de comunicação social é inaceitável”, acusou.

“Já sabíamos sobre os problemas de idoneidade de Marco Galinha, das suas ligações à elite putinista. Ficamos agora a saber das suas ligações à elite que esteve ligada ao poder angolano e que durante anos usou Portugal como lavandaria do saque que fizeram, neste caso ao BES Angola”, prosseguiu Mariana Mortágua.

Para evitar que situações semelhantes aconteçam no futuro, o Bloco vai propor que a verificação da idoneidade dos acionistas da comunicação social tenha de ser feita antes de poderem adquirir uma participação. E vai chamar a Entidade Reguladora da Comunicação ao Parlamento para se pronunciar sobre o caso agora revelado.

“A ERC - e bem - decidiu suspender este fundo por não conseguia perceber quem eram os acionistas. Hoje sabemos que era Álvaro Sobrinho. A questão é que aquele fundo nunca devia sequer ter chegado a ser acionista de um grupo de comunicação”, defendeu Mariana Mortágua, concluindo que é preciso “levar a sério o momento que estamos a viver de ataque à democracia e desinformação”.