Depois das notícias de que no passado sábado a apresentação do livro infantil “Mamã, quero ser um menino!”, de Ana Rita Almeida, que decorria no centro cultural Raiano, em Idanha-a-Nova, Castelo Braga, foi interrompida por um grupo de extrema-direita reincidente nas ameaças a escritoras de livros infantis, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda endereçou um conjunto de perguntas à Ministra da Administração Interna.
No texto, indica-se que “o movimento extremista “Habeas Corpus” tem protagonizado, de forma consistente, episódios intimidatórios e mesmo violentos contra pessoas e organizações coletivas”. Portanto, o seu “discurso de ódio” passou das redes sociais para as ruas, mencionando-se a este propósito o episódio ocorrido a 22 de junho no qual a escritora Mariana Jones foi alvo de “intimidações verbais” por parte membros da associação de extrema-direita “Habeas Corpus”, durante a apresentação do seu mais recente livro “O avô Rui, o senhor do café”. O ex-juiz que comanda este grupo invadiu a livraria de Matosinhos onde decorria a apresentação com cerca de 15 pessoas gritando, tendo a autora de ser retirada pela segurança e a polícia chamada ao local num clima de “medo”. Esta não fui a única ação que fez contra Mariana Jones, tendo-a ameaçado na Feira do Livro de Lisboa.
Outros exemplos do modus operandi do grupo é a invasão no dia 14 de maio, ao auditório da Casa do Tempo, em Cabeceiras de Basto, distrito de Braga, com o intuito de interromper uma iniciativa dedicada ao tema “Luta contra a discriminação da comunidade LGBTI+ – Diversidade, género e orientação sexual”. Para além das concentrações à porta de sedes do Bloco de Esquerda, “numa das quais agrediram violentamente uma pessoa”, refere o texto.
Extrema-direita
Habeas Corpus invade apresentação de livro infantil sobre questões de género
Este sábado voltaram à ação intimidando Ana Rita Almeida, aos gritos de “deixem as crianças em paz!” e “acabou!” e invadindo o local da apresentação do livro. A autora foi retirada da sala pela Guarda Nacional Republicana e esta foi cancelada por motivos de segurança.
Posto isto, os deputados bloquistas defendem que “não se compreende como é que, perante o histórico de violência desta organização e atendendo a que as ações são previamente anunciadas nas redes sociais, não são tomadas medidas preventivas por parte das forças e serviços de segurança”. Trata-se, considera-se, de uma circunstância que “fomenta o medo e insegurança na comunidade, atenta contra o direito à liberdade de criação cultural” e “legitima a homofobia e o discurso de ódio, criando uma ideia de impunidade de quem leva a cabo ações desta natureza”.
O partido defende que “a monitorização deste tipo de organizações extremistas é um passo necessário para que se possa combater este fenómeno e, consequentemente, prevenir a ocorrência de crimes de ódio.” Daí que questione a Ministra da Administração Interna sobre se tem conhecimento da situação; se este grupo está a ser monitorizado pelas forças e serviços de segurança; se dado que as ações deste e do partido “Ergue-te” são anunciadas previamente nas redes sociais “por que razão não foram tomadas medidas de segurança preventivas eficazes”; quantos episódios violentos têm de ocorrer para o Ministério da Administração Interna tomar ações efetivas contra grupos de natureza violenta como o “Habeas Corpus”; se os elementos que perturbaram a apresentação do livro foram identificados e se não porquê; que medidas irá tomar o Governo para monitorizar a atividade de grupos promotores de ações violentas e discriminatórias; e que medidas irá tomar o Governo perante a constituição destes grupos violentos.