V Conferência do Bloco

Bloco quer responder “pela humanidade e pela vida contra a desumanização”

27 de outubro 2024 - 14:00

Mariana Mortágua encerrou a V Conferência Nacional do Bloco saudando a mobilização antirracista de sábado e o facto de o país ter dito a André Ventura que “o crime não compensa”, deixando-o “abandonado” nas ruas com o seu “séquito pequenino”.

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Mariana Mortágua

No discurso de encerramento da V Conferência Nacional do Bloco, Mariana Mortágua destacou das intervenções do fim de semana as dos muitos jovens “que nos trouxeram as suas experiências de movimentos sociais, de luta política, de autarquias, do interior, da luta toda que é a nossa vida”. E agradeceu em particular as intervenções mais críticas, pois “faz falta no nosso Bloco essa diversidade em que todos somam, essa também a nossa identidade”.

Em seguida criticou a “política da desumanização” que “é essencial ao capitalismo de guerra que hoje se vai impondo” e se mostra na catástrofe climática, no genocídio dos palestinianos ou na política de imigração, numa “banalização do mal” que “é a política dos liberais” que fornecem armas a Netanyahu, apoiam o Pacto das Migrações e substituem o investimento verde pelo subsídio ao complexo industrial-militar. Para Mariana Mortágua, trata-se de “uma forma de dominação da maioria que perde qualidade de vida e é uma forma de extrair novas rendas do Estado, ou seja, do povo”, como mostra a fonte dos rendimentos “do maior dos patrocinadores do novo fascismo”, o bilionário Elon Musk: “mais de 90% provêm de entidades estatais norte-americanas, sobretudo da NASA e do Ministério da Defesa”, apontou, citando o gráfico publicado recentemente pelo New York Times. “Eles não querem acabar com o Estado, querem fazer dele o seu brinquedo de dominação e enriquecimento no meio do caos”, sublinhou a coordenadora do Bloco.

Sobre os manifestantes que encheram a Avenida da Liberdade no sábado “e fizeram do antirracismo o centro da política nacional”, Mariana Mortágua disse que “saiu à rua um país que quer poder olhar nos olhos os três filhos de Odair Moniz” e que “o Bloco cá estará para garantir que a lição de ontem não é esquecida: de como a humanidade nos engrandece e de como são mesquinhos os discursos do ódio”. A esse propósito, referiu ainda a contramanifestação do Chega em que “os eleitores não vieram e os militantes não apareceram”, deixando André Ventura “abandonado”. “Se não percebeu eu faço-lhe um desenho: o que ontem Portugal lhe disse foi que o crime não compensa”.

Encerramento da V Conferência Nacional do Bloco
Encerramento da V Conferência Nacional do Bloco. Foto de Ana Mendes.

“Não estamos à espera de amanhãs que cantam”

Regressando aos debates da conferência, Mariana Mortágua afirmou que “o partido que estamos a criar para responder a este mundo novo e perigoso pode ser resumido assim: respondemos pela humanidade e pela vida contra a desumanização”, contrapondo a proposta da “vida boa” por um lado para “popularizar a ideia magnífica do socialismo”, mas por outro mostrar que “não estamos à espera de amanhãs que cantam, o que queremos é o mais elementar que faz já a diferença na tua vida”, como empregos e salários decentes, casa para viver, creches para os filhos ou um SNS de qualidade para toda a gente.

“O socialismo do futuro é a vida boa e o seu tempo é agora, o futuro é já, é o caminho que vamos percorrer para disputar tudo”, e para isso o Bloco propõe-se nos próximos meses promover a atualização do seu programa político, pensado “a partir da comunidade, a condição que os trabalhadores e as trabalhadoras têm em comum - a de serem a origem de toda a riqueza social num capitalismo que nunca concentrou tanto em tão poucos”. E vai continuar a insistir em políticas concretas como a redução do tempo de trabalho, o reconhecimento dos direitos laborais para os trabalhadores das plataformas digitais, a tributação dos super-ricos e das grandes fortunas, a recuperação para a esfera pública das empresas que “já foram instrumentos públicos de estratégia económica, e hoje estão transformados em sumidouros da riqueza do país”.

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Por fim, Mariana Mortágua referiu-se às próximas eleições autárquicas, em que o Bloco quer dar expressão política nas grandes cidades ao movimento pelo direito à habitação que se formou nos últimos anos com grandes mobilizações. E no caso de Lisboa, com “um programa capaz de acabar com a turistificação e resgatar casas ao alojamento local”, o que significa romper “com as heranças de Moedas e também de Medina, esses para quem nunca houve turismo a mais”. Para que isso aconteça, “dialogamos com quem estiver disponível para dialogar, mas tenham a certeza absoluta de uma coisa: a nossa fidelidade é para com quem sai à rua pela habitação e ao seu desejo de viver aqui”, prometeu. 

Na votação dos dois documentos propostos à Conferência, o apresentado pela Comissão Política bloquista foi aprovado com 206 votos favoráveis (ler texto) e o apresentado em alternativa por um grupo de aderentes obteve 26 votos, registando-se ainda quatro abstenções.