Está aqui

Bloco quer combater a "radical desigualdade que assalta o país"

No jantar de aniversário do Bloco no Porto, Catarina Martins lembrou que "há uma elite que enriquece crise após crise", agora no preço dos alimentos ou nos juros, enquanto o Governo nada faz e a grande distribuição e a banca anunciam os maiores lucros de sempre.
Catarina Martins. Fotos de Pedro Faria.

A coordenadora do Bloco de Esquerda deixou este sábado várias críticas do Governo por ter permitido que a grande distribuição aproveite a inflação para aumentar as suas margens à custa dos consumidores. E com o mal já feito, agora "vai a ASAE supermercado adentro para dizer ao país o que toda a gente já tinha reparado: é que nos estão a assaltar. E o que o Governo faz é muito pouco e muito tarde para, na verdade, não fazer nada”, acusou Catarina Martins durante o jantar do 24º aniversário do Bloco de Esquerda na Associação de Moradores da Bouça, no Porto.

Além da inação do Governo, Catarina apontou o exemplo da CEO da Sonae, Cláudia Azevedo, que escreveu aos trabalhadores do Continente "para dizer que há uma campanha de desinformação sobre as causas da inflação alimentar”. Lembrando que a gestora viu a sua remuneração aumentar para 1,6 milhões de euros por ano, uma quantia que "os trabalhadores do Continente demoram nove anos a ganhar", levantou a hipótese de Cláudia Azevedo achar que ainda é pouco, "porque ali ao lado, na Jerónimo Martins [Pingo Doce], Soares dos Santos [presidente da Jerónimo Martins] ganha 12 milhões de euros”, o que os trabalhadores do Pingo Doce levariam 70 anos para ganhar.

Assim, quando a empresária conclui na carta que as decisões do grupo são sempre orientadas por valores, Catarina vê nesta mensagem uma referência aos valores dos CEO e não aos valores a que está habituado quem trabalha nos supermercados, já que estes “não tiveram sequer 5% de aumento e têm de pagar as cebolas a mais 50%" do que no ano passado.

“Estes tempos de insegurança são provocados por uma radical desigualdade", prosseguiu Catarina, "Não são tempos difíceis para todos, são tempos difíceis para quase todos porque há uma elite que enriquece crise após crise”, concluiu, referindo ainda o aumento dos lucros da banca em 2022 numa altura em que muitas famílias veem a prestação do crédito à habitação a disparar.

Louçã sublinha entusiasmo do Governo e da direita com a privatização da TAP

O ex-coordenador do Bloco de Esquerda também interveio neste jantar de aniversário para apelar à defesa dos seviços e dos bens públicos E escolheu o tema da TAP como um exemplo bem conhecido do desastre de uma privatização. “Tudo o que eles fizeram foi mostrar o que os privados podem fazer para destruir uma empresa que é um bem público”, afirmou Francisco Louçã, referindo-se à gestão de David Neeleman na TAP e Alfredo Casimiro na Groundforce.

“O Governo está entusiasmado com o entregar isto [TAP] aos privados, a direita está satisfeitíssima, a extrema-direita abre garrafas de champanhe e os liberais banham-se em champanhe no meio de toda esta festa porque a Lufthansa, a British Airways, a Ibéria ou o que houver vai ficar com a TAP, alguém vai ficar com a TAP”, afirmou Louçã, contrapondo que o país deve proteger os bens públicos e evitar os erros do passado.

“Se a energia é um bem público, se o transporte de qualidade dos comboios aos aviões são bens que servem o país, são bens públicos e podem ser tratados como quiserem, mas há uma coisa que nunca muda, nomeadamente que é um bem público para o público e a favor do público”, resumiu Louçã.

Isabel Pires: "Pacote 'Mais Habitação' devia chamar-se "Mais para quem especula'"

A deputada bloquista Isabel Pires fez a intervenção de abertura e destacou a luta pelo direito à habitação. Apontou as décadas sem intervenção do Estado e municípios para garantir esse direito, e em sentido contrário a chegada da turistificação e a "entrega de bandeja ao turismo e especulação de milhares de casas". "Quem vive do seu salário teve duas opções: esperar por ser despejado ou fugir para longe dos centros", enquanto o Governo "continuou a assobiar para o lado" e a deixar a situação tornar-se insuportável.

Para Isabel Pires, as medidas anunciadas no pacote do Governo de subsídio a rendas "baseiam-se nos valores inflacionados que são hoje praticados". E acusa quer o Governo quer a direita de "pretenderem manter tudo na mesma", pois não estão preocupados "em tratar a habitação enquanto serviço público ou direito constitucional".

Na conclusão do discurso, Isabel Pires apelou à participação nas manifestações "Casa para Viver", marcadas para o dia 1 de abril em Lisboa e no Porto e promovidas por movimentos pelo direito à habitação.

Termos relacionados Política
(...)