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Bloco denuncia “teia de interesses e relações familiares” no Hospital de Ponta Delgada

Em causa estão a presidente do conselho de administração e o diretor clínico do Hospital de Ponta Delgada. O coordenador regional do Bloco de Esquerda, António Lima, vai requerer audições da administração do hospital bem como do secretário regional da Saúde.
“Existem nomeações feitas por este conselho de administração que claramente indiciam favorecimento de familiares de membros do próprio Conselho de Administração”, denuncia António Lima.
“Existem nomeações feitas por este conselho de administração que claramente indiciam favorecimento de familiares de membros do próprio Conselho de Administração”, denuncia António Lima.

O Bloco de Esquerda Açores denunciou esta quarta-feira, em conferência de imprensa, uma “teia de interesses e de relações familiares” que envolvem a presidente do conselho de administração e o diretor clínico do Hospital de Ponta Delgada

António Lima, deputado no parlamento açoriano, vai requerer audições da presidente do conselho de administração do Hospital de Ponta Delgada e secretário regional da Saúde, bem como do Sindicato Independente dos Médicos e dos representantes das ordens dos médicos e enfermeiros, para esclarecer “todos os graves problemas” na maior unidade de saúde dos Açores, noticia a agência Lusa.

“Queremos com estas audições, em primeiro lugar, transparência e prestação de contas”, sustentou António Lima, relembrando as “polémicas, os problemas e queixas graves que envolvem o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) e o seu novo conselho de administração (CA)”.

“As denúncias vindas a público revelam situações incompatíveis com um estado de direito democrático e atentam contra a liberdade sindical”, disse ainda.

“Existem nomeações feitas por este conselho de administração que claramente indiciam favorecimento de familiares de membros do próprio Conselho de Administração”, incluindo a nomeação da cônjuge do diretor clínico para diretora do serviço de endocrinologia e a nomeação do cônjuge da presidente do conselho de administração para vários cargos no hospital: responsável da Unidade de Epidemiologia Clínica, Controlo Infeção, Investigação e Informação Saúde, vogal da Comissão de Emergência para a Pandemia de Covid-19, e vogal da Comissão Técnica para a Pandemia da Covid-19”, detalhou.

O médico em questão, Mário Freitas, cônjuge da presidente do Conselho de Administração do hospital, “não tem vínculo ao HDES, mas é o médico responsável pela saúde ocupacional no HDES através de uma empresa que pertence a familiares diretos do diretor clínico do hospital, onde o próprio diretor clínico do hospital trabalha em acumulação ilegal de funções”, explicou o coordenador regional do Bloco de Esquerda.

“Essa acumulação de funções do Diretor Clínico do HDES na empresa dos seus familiares que detém uma relação contratual com o HDES coloca totalmente em causa a sua isenção e imparcialidade”, concluiu.

“Estamos perante uma teia de interesses e de relações familiares que muito provavelmente viola a legislação em vigor, para não falar dos princípios éticos e de defesa do interesse público que devem nortear a atuação dos titulares de cargos públicos”.

Além desta questão, o Bloco de Esquerda quer também esclarecimentos sobre o alegado ataque informático ao hospital, sobre as tentativas de condicionamento da atividade sindical denunciadas pelo Sindicato Independente dos Médicos, e sobre a gestão da comunicação do hospital através de anúncios em redes sociais pagas diretamente pela presidente do conselho de administração.

Relativamente ao ataque informático, o deputado do Bloco estranha a ausência de intervenção do secretário regional da Saúde, que trata deste assunto “que, a ser verdade, constitui um crime gravíssimo de ciberterrorismo, como se fosse apenas um computador que avariou”. Estranha ainda o “despedimento do diretor dos serviços de informática sem que tenham ainda sido apuradas responsabilidades”, e que ao fim de dois meses não se saiba “que investigações estão em curso e que entidades judiciais e policiais estão a intervir”.

O Bloco de Esquerda enviou uma pergunta ao Governo sobre este assunto há um mês, mas ainda não obteve resposta.

António Lima referiu ainda que “existe um claro clima de litígio permanente entre o conselho de administração e os seus profissionais, o que coloca em causa o bom funcionamento desta instituição” e dá como exemplo as denúncias do Sindicato Independente dos Médicos, que aponta “tentativas de intimidação e condicionamento da atividade sindical”.

“Fala-se em atuações pidescas, em purgas, perseguições e despedimentos, acusações demasiado graves para que não sejam esclarecidas a fundo. Algumas das denúncias são acima de tudo incompatíveis com a democracia e o estado de direito”, disse o deputado.

Para esclarecer “todos estes graves problemas” o Bloco anunciou que vai propor a audição no parlamento da presidente do conselho de administração do HDES, o Secretário Regional da Saúde e Desporto, o Sindicato Independente dos Médicos, e os representantes das ordens dos médicos e enfermeiros.

António Lima acredita que, se houver vontade de esclarecer estas situações, as propostas de audições serão aprovadas, e que uma eventual rejeição da realização destas audições, por parte dos partidos da maioria, só poderá ser entendida como uma “tentativa de manter a opacidade”.

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