As aves de Chernobil adaptaram-se à radiação

28 de abril 2014 - 0:52

As aves na zona de exclusão em redor de Chernobil estão-se a adaptar à exposição a longo prazo à radiação, avança um estudo do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), publicado na revista Functional Ecology da Sociedade Ecológica Britânica.

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Segundo apontam os autores, é a primeira prova de que os animais selvagens se adaptam à radiação ionizante, e o primeiro estudo a demonstrar que as aves que produzem mais feomelanina, um pigmento nas plumas, têm maiores problemas para fazer frente à exposição de radiações.

Segundo o responsável do estudo, Ismael Galván, "os estudos anteriores sobre a vida selvagem em Chernobil demonstravam que a exposição crónica à radiação esgota os antioxidantes e aumenta o dano oxidativo. No entanto, neste trabalho detetou-se o oposto: os níveis de antioxidantes aumentaram e o estresse oxidativo diminuiu com o aumento da radiação de fundo".

Esta equipa de cientistas trabalha na área desde 1990. Capturaram 152 aves de 16 espécies diferentes em oito áreas da zona de exclusão de Chernobil, às quais mediram os níveis de radiação de fundo. Registaram os níveis de glutationa (um antioxidante finque) dos pássaros, o seu estresse oxidativo e os danos no ADN através de amostras de sangue, bem como os níveis de pigmentos de melanina em amostras de pluma. Concretamente, centraram-se na feomelanina (que se encontra na pele e no cabelo) que, ao utilizar antioxidantes, poderia gerar uma maior suscetibilidade à radiação nos animais que a produzem abundantemente.

A grande vantagem deste trabalho é o novo enfoque que atribui à análise dos resultados. O método empregue pelos investigadores tem em conta a diferença de relacionamento entre as próprias espécies, que tem relevância pelo facto de algumas serem mais suscetíveis à radiação que outras.

Assim, os cientistas analisaram as aves como seres vivos individuais, não como espécies, uma maneira bem mais "sensível" na hora de recolher os resultados bioquímicos da radiação, segundo explicou principal responsável pelo estudo.

Os resultados revelaram que, com o aumento da radiação de fundo, os níveis de glutationa das aves aumentaram e o estresse oxidativo e os danos no ADN diminuíram. Também mostraram que as aves que produzem grandes quantidades de feomelanina sofrem maiores deteriorações corporais.  

 "A exposição crónica a baixas doses de radiação em Chernobil favorece a adaptação ao estresse oxidativo", indicou Galván, que detalhou ainda que os níveis de radiação, na área de estudo que o CSIC utilizou para o trabalho, variaram entrou os 0,02 até os 92,90 micro Sievert por hora.

Do mesmo modo, apontou que "as descobertas são importantes porque ajudam a conhecer mais sobre a capacidade das diferentes espécies em se adaptar aos desafios ambientais em zonas como Chernobil ou Fukushima".