Cisjordânia

Autoridade Palestiniana mandou suspender emissões da Al Jazeera

02 de janeiro 2025 - 10:50

A tensão entre o governo de Abbas e a estação televisiva dura há semanas por causa da cobertura das incursões armadas das forças de segurança no campo de refugiados de Jenine.

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Estúdio da Al Jazeera nos Balcãs
Estúdio da Al Jazeera nos Balcãs. Foto Osama Bhutta/Flickr

A Autoridade Palestiniana deu ordem de encerramento das instalações da Al Jazeera em Ramallah, imitando assim a mesma decisão tomada por Israel em setembro de fechar por 45 dias estas instalações por suposto apoio ao terrorismo, isto já depois de ter proibido as emissões da estação no território israelita.

Segundo a agência palestiniana de notícias Wafa, o comité ministerial que inclui representantes dos Ministérios da Cultura, Interior e Telecomunicações, decidiu a suspensão das emissões da Al Jazeera na Palestina e a suspensão do trabalho de todos os jornalistas, funcionários e canais associados à televisão sediada no Qatar.

“As autoridades acusaram a rede de difundir conteúdos instigantes, de espalhar desinformação e de interferir nos assuntos internos da Palestina, o que, segundo elas, provocava divisão e instabilidade”, refere a agência Wafa, acrescentando que “a suspensão é temporária e permanecerá em vigor até que a rede resolva o seu estatuto legal de acordo com os regulamentos palestinianos”.

Al Jazeera: Proibição é uma “tentativa de esconder a verdade” sobre o que se passa em Jenine

Em comunicado, a Al Jazeera condenou o fecho das suas instalações na Cisjordânia, classificando esta medida como sendo “coerente” com as “práticas da ocupação israelita contra as suas equipas”. E denuncia-o como uma “tentativa de a dissuadir de cobrir a escalada de acontecimentos que tem lugar nos territórios ocupados”.

A estação televisiva fala ainda de uma “campanha contínua de incitamento e intimidação dos partidos patrocinados pela Autoridade Palestiniana contra os nossos jornalistas” e conclui que a proibição é “uma tentativa de esconder a verdade sobre os acontecimentos nos territórios ocupados”, particularmente em Jenine.

Sindicato dos Jornalistas Palestinianos condenou publicações da Al Jazeera

No último dia do ano, o Sindicato dos Jornalistas Palestinianos fez saber que alguns associados apresentaram queixas contra a Al Jazeera, alegando cobertura parcial, e que o comité de ética que investigou as queixas conclui que algumas publicações contêm discurso de ódio e desinformação, ameaçando a coesão social na Palestina. Dão como exemplo uma imagem gerada por inteligência artificial que coloca uma espingarda que não é usada pelas forças de segurança palestinianas ou a dramatização de acontecimentos na plataforma 360 que “criam uma falsa impressão nos espectadores e reforçam o seu conteúdo noticioso incendiário”.

“A sua cobertura dos acontecimentos parece servir uma agenda de provocação, desrespeitando o profissionalismo jornalístico e fomentando a divisão interna. Além disso, a utilização de conteúdos gerados por IA para enganar o público e provocar emoções está muito longe dos padrões éticos e profissionais esperados de qualquer meio de comunicação social responsável”, aponta o sindicato.

Combates no campo de refugiados já mataram membros do Batalhão Jenine e das forças de segurança

O campo de refugiados de Jenine alberga hoje 25 mil pessoas e existe desde 1948 como refúgio para os palestinianos expulsos das suas casas após a criação do Estado israelita. Sempre foram notícia as incursões militares e os bombardeamentos de Israel a este campo de refugiados, alegando ter como alvo combatentes da Jihad Islâmica ou do Hamas. Mas nas últimas semanas têm sido as forças de segurança da Autoridade Palestiniana a protagonizar estas incursões com o mesmo objetivo.

O alvo do governo de Mahmoud Abbas é o Batalhão Jenine, o nome que serve de guarda-chuva a várias fações de combatentes palestinianos, como os Mártires das Brigadas de Al-Aqsa, a Jihad Islâmica da Palestina ou as Brigadas Qassem. Estes grupos olham para Abbas como um fantoche de Israel e o líder da Autoridade Palestiniana considera-os como foras da lei que fazem refém a população ali residente.

Para o governo de Abbas, estes grupos apoiados pelo Irão servem os interesses deste país para enfraquecer a Autoridade Palestiniana. Para um dos comandantes do Batalhão Jenine, Qais al Saa’di, as operações de segurança são uma forma de a Autoridade Palestiniana mostrar a Israel que consegue controlar Jenine e poder em troca receber dos israelitas o controlo de Gaza.

Os combates fizeram vários mortos nas últimas semanas e levaram a agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) a suspender as operações no campo de refugiados. Segundo relata a CNN, a população do campo está maioritariamente ao lado do Batalhão Jenine.

A quantidade e o conteúdo das reportagens da Al Jazeera sobre o conflito foram mal recebidas pela Autoridade Palestiniana. Na véspera de Natal, a Fatah condenou a cobertura prolongada dos conflitos, acusando a estação televisiva de estar a semear a divisão “na nossa pátria árabe em geral e na Palestina em particular”. A estação respondeu afirmando que “manteve com sucesso o seu profissionalismo durante a cobertura dos acontecimentos que se desenrolam em Jenine”, mostrando sempre o ponto de vista de ambos os lados.

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