“Até no INEM o Governo se quer descartar da responsabilidade do Estado”

17 de novembro 2024 - 17:06

Num almoço com militantes em Viseu, Mariana Mortágua voltou a defender a demissão da equipa ministerial da Saúde. Além de não querer assumir responsabilidades pelo funcionamento da emergência médica, a ministra “quer que o Estado também não as assuma”, acusou.

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m técnico de emergência pré-hospitalar do Instituto Nacional de Emergência Médica
m técnico de emergência pré-hospitalar do Instituto Nacional de Emergência Médica. Foto António Pedro Santos/Lusa

“A principal intenção do Governo é descartar-se das responsabilidades e descartar-se do Estado”, afirmou Mariana Mortágua este domingo em Viseu, passando em revista os sete meses de mandato de um executivo “desgastado” PSD/CDS, com o foco na área da saúde, pois “o Ministério da Saúde é caricatura disto, é caricatura deste PSD que se quer descartar de todas as responsabilidades”.

A coordenadora bloquista diz que hoje “há tantas ou mais urgências fechadas do que havia antes, há mais bebés a nascer em ambulâncias do que havia antes, as listas de espera para os hospitais estão a aumentar, o número de pessoas sem médicos de família é maior do que havia antes. E a resposta da ministra e do Governo é ‘eu não tenho nada a ver com isso’”. Quanto às reações de Ana Paula Martins aos sucessivos desastres que têm marcado o seu mandato, Mariana Mortágua resume-as assim: “desde que não seja nada com ela, todas as cabeças podem rolar”.

Ante o fracasso na gestão dos serviços de saúde e os casos de incompatibilidades qu atingem a ministra a muitas das suas nomeações para cargs de topo, Mariana Mortágua insiste que “a equipa ministerial da Saúde não tem condições para governar e deve demitir-se" ou em alternativa. “ser demitida pelo primeiro-ministro, até porque, quando as coisas acontecem durante demasiado tempo, a responsabilidade passa a ser do primeiro-ministro e não da ministra da Saúde ou da sua equipa”.

Mas o problema, prosseguiu, é que já não é só a ministra a querer descartar-se das responsabilidades, com essa prática a tornar-se política do Governo no seu conjunto. No caso dos centros de saúde, com a criação de centros de gestão privada em que os contribuintes vão pagar “a peso de ouro a um privado para ficar com os casos menos graves”. Ou no caso da vacinação nas farmácias, onde se paga mais “para termos resultados piores do que tínhamos”.

E agora “até no INEM, a emergência das emergências, o telefone a quem vamos ligar quando a nossa vida está por um fio, até aqui o Governo se quer descartar da responsabilidade do Estado”, sublinhou a coordenadora do Bloco em reação às palavras da ministra da Saúde.

“Como a ministra não quer assumir responsabilidades, quer que o Estado também não as assuma. E por isso o Estado passa o cheque e chama-se privados para ir gerir os serviços públicos, incluindo o INEM”, insistiu Mariana Mortágua, concluindo que esta receita “é copiada a papel químico daquela cartilha da Iniciativa Liberal que vê o Estado como o paizinho rico que passa o cheque”.

Sapadores florestais a ganhar o salário mínimo “é uma vergonha para todos nós”, diz líder do SINFAP

A convite do Bloco de Esquerda, neste almoço interveio também Alexandre Carvalho, o presidente do Sindicato Independente dos Trabalhadores da Floresta, Ambiente e Proteção Civil, que falou do trabalho destes profissionais na recuperação das áreas ardidas nos incêndios que assolaram a região. Um trabalho que, ao contrário das chamas e da catástrofe, “não aparece na televisão e que é feito por trabalhadores que “todos os anos, são discriminados, são silenciados, não são valorizados”.

“É uma vergonha para todos nós, como é que como trabalhador que atua na gestão florestal, na silvicultura, na prevenção aos incêndios, no combate aos incêndios, na vigilância, e depois na recuperação do pós-incêndio, seja pago com o salário mínimo nacional, que não tenha o subsídio de risco”, afirmou o sindicalista.

“Parece que os nossos governantes ainda não descobriram para que serve a proteção civil, para que serve o planeamento, a mitigação, a antecipação do risco, e andamos sempre aqui na questão da reação”, prosseguiu Alexandre Carvalho, insistindo ainda na reivindicação antiga do seu sindicato pela integração total na carreira militar para os guardas florestais da GNR.