O Expresso desta semana revela mais um caso de promiscuidade entre o público privado e de trânsito sem ética entre cargos de um para o outro sector: Pedro Bento, ex-assessor do Secretário de Estado adjunto das Obras Públicas e Comunicações, nomeado em Outubro de 2009 para administrador-executivo da empresa de capitais públicos que autoriza e gere todos os equipamentos de cobrança automática de portagens (chips) das Scut, passou em Março deste ano a ser o principal responsável da empresa norueguesa que fornece todos esses equipamentos.
A Q-Free, empresa norueguesa, fabrica e fornece os equipamentos que são instalados nos pórticos de entrada das auto-estradas para controlar os acessos, e os chips a serem instalados nos veículos, além do sistema de controlo de backoffice.
Além dos chips para as Scut, a empresa norueguesa fornece também os 2,4 milhões de identificadores usados pelos clientes da Via Verde.
Pedro Bento tem 34 anos e era o único administrador-executivo da SIEV – Sistema de Identificação Electrónica de Veículos S.A., sociedade anónima de capitais públicos criada em Maio de 2009 para gerir o esquema de pagamento electrónico da portagens nas Scut. Na mesma altura, foram nomeados outros dois administradores, mas sem funções executivas. Mais curiosamente ainda – se considerarmos que o governo teima em começar a cobrança das portagens nas Scut em Julho – Pedro Bento ainda não foi substituído na SIEV, que está sem administrador-executivo.
Inquirido pelo Expresso, o secretário de Estado das Obras Públicas limitou-se a dizer que “não existe qualquer impedimento ou incompatibilidade legal” para a transferência de funções do público para o privado, e que por isso, essa matéria “é do foro ético e pessoal de cada um”.