O semanário Expresso revela este sábado o documento da censura das autoridades chinesas à obra de Miguel Palma, por “poder causar sentimento de desconforto e experiências sensoriais negativos no público chinês”. O documento clarifica que para manter a exposição na China a obra teria de ser removida.
Citado pelo Expresso, Miguel Palma reagiu com ironia. “Em Portugal, os artistas passam a vida a ser ignorados. É como estar num lugar indiferente. É bom saber que pelo menos uma pessoa na China não sentiu indiferença”, declarou o artista plástico, considerando a obra em causa “uma paródia, até mais em relação ao Ocidente do que ao Oriente”.
Com as obras retiradas e os catálogos da exposição confiscados pela censura, Cavaco Silva pôde então inaugurá-la, com palavras elogiosas sobre as obras que “espelham as temáticas e os meios pelos quais a arte contemporânea se move e nos interroga”.
Também o vídeo “Alvorada Vermelha”, filmado por João Pedro Rodrigues e Rui Guerra da Mata no Mercado Vermelho de Macau, foi alvo da censura chinesa apenas uma hora antes da chegada de Cavaco Silva para inaugurar esta exposição no Museu de Arte Mundial de Pequim. Rui Guerra da Mata lamenta “não ter havido uma palavra, um comentário, uma reação oficial portuguesa” à retirada de um vídeo que mostra os animais a serem transformados em alimento. “Na China, são uma banalidade. Seria como em Portugal mostrar uma embalagem de peru num supermercado”, diz o realizador.
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“Não estávamos em Pequim, mas soubemos que o nosso filme tinha sido censurado momentos antes da inauguração e os catálogos retirados”, prossegue Rui Guerra da Mata, afirmando-se surpreendido por “tantos dias depois disto ter acontecido, ainda se faça de conta que não aconteceu”. A censura da China em cima da hora da inauguração também surpreendeu um dos curadores da exposição que agora pode ser vista em Lisboa, no Museu do Oriente. Luís Alegre admite ainda que “todos sabíamos que as obras presentes tinham passado pela censura, mesmo apesar do evento ser patrocinado por entidades portuguesas”, como a EDP .
Com as obras retiradas e os catálogos da exposição confiscados pela censura, Cavaco Silva pôde então inaugurá-la, com palavras elogiosas sobre as obras que “espelham as temáticas e os meios pelos quais a arte contemporânea se move e nos interroga”. Passadas duas semanas, ainda não se ouviu nenhuma resposta do Presidente da República às interrogações levantadas pela censura numa exposição a que deu a sua chancela, ao integrá-la no programa oficial da visita à China.