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Áreas protegidas deixam de fora 85% das espécies vulneráveis

Estudo aponta que novos parques devem ser estrategicamente localizados e eficientemente geridos para estancar a perda da biodiversidade, ao contrário do que ocorre atualmente. Por Fernanda B. Müller, do CarbonoBrasil.

A expansão das áreas protegidas deveria focar-se em regiões que abrigam espécies ameaçadas, em vez de abranger terras com baixo custo de preservação como tem vindo a acontecer, apontam investigadores de diversas organizações num novo estudo publicado na PLOS Biology.

Eles concluem que 85% das mais de quatro mil espécies de vertebrados vulneráveis no mundo não são suficientemente abrangidas por áreas protegidas, uma vez que a criação dessas áreas tem levado mais em conta o custo financeiro do que a importância biológica.

“O nosso estudo mostra que as atuais áreas protegidas não cumprem efetivamente o seu papel, deixando muitas espécies numa posição perigosa”, disse Oscar Venter, que liderou o estudo na Universidade de Queensland (Austrália).

Os investigadores usaram dados de distribuição dessas áreas e de espécies ameaçadas de aves, mamíferos e anfíbios para avaliar a cobertura atual e futura dessas espécies sob a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB).

O estudo teve em conta a movimentação iniciada em 2010, quando 193 países assinaram – entre outros objetivos conhecidos como Metas de Aichi – a CDB, comprometendo-se a aumentar a área protegida terrestre para abranger entre 13% e 17% da superfície mundial até 2020 (Meta nº 11).

“Vários países estão a trabalhar na direção da maior expansão de áreas protegidas na história. Mas é vital que essa expansão foque em terras que contenham flora e fauna ameaçadas, em vez da abordagem ‘business-as-usual’ de favorecer áreas que são baratas para proteger”, enfatizou Venter.

Usando modelos de computador para simular cenários para a futura expansão das áreas protegidas, os autores descobriram que as novas propostas podem deixar de fora grande parte da biodiversidade.

O estudo mostra que a expansão das áreas protegidas para 17% da superfície mundial abrangendo as regiões mais baratas, mesmo se forem representativas ecorregionalmente, aumentaria o número de vertebrados ameaçados cobertos em apenas 6%.

Entretanto, a relação não linear entre o custo de aquisição das terras e a cobertura das espécies significa que cinco vezes mais vertebrados ameaçados poderiam ser adequadamente protegidos por apenas 1,5 vezes o custo da solução mais barata. Isso se tanto a eficiência financeira quanto as espécies ameaçadas fossem incorporadas no processo de tomada de decisão da área.

O professor associado James Watson, coautor do estudo da Universidade de Queensland e membro da Wildlife Conservation Society, disse que conectar critérios de fauna e flora ameaçadas com a amplitude das novas áreas protegidas atenderia a dois compromissos assumidos pelas partes da CDB – a meta n° 11 e a n° 12, que prevê o estancamento da perda das espécies ameaçadas conhecidas.

“Quando essas metas são combinadas, os países têm uma probabilidade muito maior de criar novos parques em áreas biologicamente ameaçadas, o que levará a dividendos em longo prazo para a conservação global”, notou Watson.

A pesquisa foi realizada pela Universidade de Queensland em colaboração com a Sociedade de Conservação da Vida Selvagem, Universidade James Cook, CSIRO Ecosystem Science, União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), BirdLife International, Universidade de Roma La Sapienza, Universidade de Stanford e Universidade de Kent.

Artigo publicado em http://www.institutocarbonobrasil.org.br/noticias6/noticia=737518

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