A universidade está a ser descoberta, finalmente. Ela ora é um convento, em que o espírito ortodoxo é o único que subsiste - vestígio da antiga “universidade dos sábios” - ora é a universidade-empresa, fomentada pelo neoliberalismo de pacotilha. A saúde mental, a igualdade, e a decência são sacrificados pela aparência do sucesso futuro: competição inane, apagamento do espírito crítico, e eficientismo.
As denúncias de assédio não surpreendem. O abuso de poder é uma constante em instituições abertas, quanto mais em instituições fechadas. As ligações familiares, partidárias, negociais, são conflitos de interesse evidentes para qualquer pessoa. Há relações de poder, e sofre geralmente quem não o tem: os estudantes, é claro, e também os assistentes e investigadores precários. No estilo da velha lei mental: ou te calas ou estás fora. O seguidismo ou o ostracismo.
Quando há um par de anos escrevi sobre a injustiça no direito administrativo, fiz questão de começar o texto por abordar as condições estruturais de desigualdade e indecência na universidade. A aceitação prática disso seria, aparentemente, uma questão de adaptação a uma realidade especial, um território sem lei. A insinuação de favores e as práticas de humilhação, sem possibilidade de apelo ou responsabilização efectiva. Entretanto, a moral da praxe assegura a subsistência e o encobrimento pelos pares é corriqueiro.
Artigo de João Freitas Mendes, Bolseiro de Doutoramento da FCT, Assistente da FDUL