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André Ventura perde no Tribunal da Relação de Lisboa contra família do bairro da Jamaica

Líder da extrema-direita foi condenado por chamar bandidos à família Coxi, num debate das eleições presidenciais. O Tribunal da Relação confirma a condenação e afirma que as ofensas de Ventura têm “vertente discriminatória em função da cor da pele e da situação socioeconómica” da família.
André Ventura passou pelo bairro da Jamaica, no Seixal, a 6 de setembro de 2021. Foto de Rui Minderico/Lusa
André Ventura passou pelo bairro da Jamaica, no Seixal, a 6 de setembro de 2021. Foto de Rui Minderico/Lusa

Na primeira instância do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, André Ventura foi condenado por ofensa à honra e ao bom nome das sete pessoas da família Coxi. O tribunal considerou que o líder do Chega, que recorreu da sentença, tentou instrumentalizar a família no debate presidencial com Marcelo Rebelo de Sousa e condenou-o a pedir desculpas públicas à família Coxi e a publicar a condenação nos meios de comunicação em que as declarações foram divulgadas.

Segundo o Público, que teve acesso à decisão, o Tribunal da Relação de Lisboa não deu razão a André Ventura e confirmou a decisão da primeira instância que o condenou por ofensa à honra e ao bom nome das sete pessoas da família. Os juízes consideram que André Ventura e o Chega utilizaram uma fotografia da família “como arma de segregação social”. O tribunal considerou que o líder da extrema-direita extravasou os limites da liberdade de expressão, lesando o direito à honra e à imagem dos sete elementos da família Coxi – entre os quais, uma criança de 5 anos.

O tribunal refere que, “aquando do debate televisivo de 24 de janeiro de 2021, os autores não estavam no palco da discussão nem eram os adversários políticos” de Ventura e sublinham que no debate político era permitida uma linguagem mais agressiva da parte dele, mas apenas contra o adversário no debate político, Marcelo Rebelo de Sousa, e não contra a família Coxi.

De acordo com o jornal, a sentença salienta que “assumindo os réus (Ventura e o partido) o desiderato político-mediático de defender os direitos das forças policiais, para enfatizar a desconsideração que – no seu entender – o seu adversário de debate pudesse evidenciar perante tais forças não era necessário trazer ao debate a fotografia dos autores nem recorrer aos qualificativos dos mesmos efectivamente utilizados pelo réu”.

O Tribunal da Relação confirma a condenação da primeira instância de André Ventura pedir desculpas públicas à família Coxi e publicar a condenação, a expensas suas, nos mesmos meios de comunicação social onde as declarações ofensivas foram originalmente divulgadas – na SIC, na SIC Notícias, na TVI e ainda na conta do Partido Chega no Twitter.

Ao Público, Leonor Cordeiro, advogada da família, que não pediu qualquer indemnização, declarou que a família está satisfeita com a sentença, "sentindo que os seus direitos foram protegidos pela justiça portuguesa, não obstante a sua precária condição económica e a sua falta de protagonismo mediático” e aguardam o trânsito em julgado, “nos próximos dias”.

Em primeira declaração à agência Lusa, ainda sem ter lido a sentença, o líder da extrema-direita disse que vai avaliar todas as hipóteses para agir juridicamente, acrescentando que voltaria a fazer o mesmo e considerando que a condenação é “grave” e “não é positiva”, nem para si, nem para o partido.

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