Amnistia Internacional apela a Governo chinês para que reconheça massacre de Tiananmen

04 de junho 2014 - 10:44

A AI pede ao executivo chinês que “reconheça e responsabilize os que cometeram as violações dos direitos humanos e indemnize as vítimas da repressão de 1989 e as suas famílias”, e denuncia a “perseguição a dezenas de ativistas” nas semanas antes do 25.º aniversário do massacre de Tiananmen, que se celebra esta quarta feira.

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“O apelo é para que os acontecimentos [de Tiananmen] sejam reavaliados, para que seja feita justiça às vítimas e para que se deixe de perseguir e prender todos aqueles que agora estão a pedir a reavaliação dos factos e justiça às vítimas”, explicou Teresa Nogueira, coordenadora do cogrupo da China da Amnistia Internacional (AI) de Portugal, em declarações à agência Lusa.

A organização não-governamental dos direitos humanos apela ao governo chinês para que “reconheça e responsabilize os que cometeram as violações dos direitos humanos e indemnize as vítimas da repressão de 1989 e as suas famílias” e ainda que pare com a perseguição a dezenas de ativistas.

“O governo chinês, com a proximidade dos 25 anos da repressão na praça Tiananmen, está a perseguir e prender dezenas de ativistas», denunciou Teresa Nogueira, adiantando que entre os detidos estão “o advogado de direitos humanos Pu Zhiqian, e a jornalista Gao Yu” e que “outros, como Ding Zilin, porta-voz do movimento das Mães de Tiananmen, foram colocados em prisão domiciliária”.

“Os cidadãos chineses estão a protestar e também através da Internet. Apesar de ser censurada, as pessoas recorrem a servidores de Internet estrangeiros, sendo um meio muito utilizado pelas para denunciar as situações de corrupção e a falta de liberdade de expressão”, referiu a coordenadora do cogrupo da China da Amnistia Internacional (AI) de Portugal.

Teresa Nogueira lamenta que as promessas de abertura política e o respeito pelos diretos humanos e liberdades civis tenham ficado por cumprir, afirmando que “não houve mudanças no país” e que as reivindicações de hoje são as mesmas de há 25 anos.

“Há centenas de manifestações na China que não ficamos a saber, muitas em fábricas, devido às más condições de trabalho, que são amplamente reprimidas e abafadas”, frisou.

A coordenadora da AI-China aponta a corrupção como um dos problemas que continuam a atingir a China. A nível provincial, os governos estão a desalojar centenas de pessoas para assegurar a construção de grandes complexos fabris e habitacionais. “Além de ganhar dos agentes promotores destes complexos, os políticos também querem apresentar números de crescimento e desenvolvimento ao governo central para conseguir benesses e promoções”, referiu Teresa Nogueira.

A ativista também condenou a repressão que existe nas regiões que pretendem autonomia, como o Tibete e a Mongólia.

A AI está a recolher assinaturas para uma petição sobre Tiananmen que será entregue ao Governo chinês até 12 de junho.

Autoridades chinesas bloqueiam google

Com a aproximação do 25º aniversário do massacre da Praça de Tiananmen, foram bloqueados os serviços do Google de pesquisa, de imagens, de tradução, o Gmail e quase todos os outros produtos da empresa norte-americana, assim  como as alternativas Google Hong Kong, Google.com e versões de outros países.

A denúncia partiu do site GreatFire.org, que assinala que este bloqueio é resultado da “autoridade chinesa de censura” e que esta será a “mais estrita censura alguma vez desenvolvida”. “Não é claro que o bloqueio é uma medida temporária perto do aniversário ou um bloqueio permanente”, avança o GreatFire.org, sublinhando que este é o bloqueio mais grave que registou desde a suspensão, durante 12 horas, dos serviços do motor de busca em 2012.

“Em 2012, o acesso foi completamente bloqueado. Desta vez, apenas 90% do acesso ao Google está bloqueado. Os utilizadores pensam que se trata de um problema do Google ou do seu computador, quando na verdade é censura”, afirmou Charlie Smith, fundador do GreatFire.org, em declarações ao South China Morning Post.

Segundo o Clube dos Correspondentes Estrangeiros na China (FCCC), vários jornalistas acreditados em Pequim foram entretanto advertidos pelas autoridades de que necessitam de uma autorização especial para fazerem reportagens na Praça Tiananmen.

Governo chinês mantém versão sobre acontecimentos na Praça Tiananmen

A 4 de junho de 1989, o governo chinês enviou o exército para reprimir a concentração de pessoas que na praça de Tiananmen protestavam contra a corrupção e exigiam reformas políticas e democráticas. Centenas de pessoas morreram e milhares ficaram feridas.

À época, as autoridades chinesas classificaram o movimento da Praça Tiananmen como uma "rebelião contra-revolucionária".

Vinte e cinco anos mais tarde, o executivo chinês fala em “distúrbios” e assegura que a China mantém a sua posição.
"A posição da China é clara e já tirámos as pertinentes conclusões acerca do incidente que refere", afirmou um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hong Lei.

Realçando o desenvolvimento social e económico registado, Hong Lei sublinhou que “isto mostra que a via que escolhemos está de acordo com as condições nacionais da China e os interesses fundamentais do povo chinês".

No que respeita às "dezenas de detenções de dissidentes" denunciadas por ativistas e organizações de defesa dos direitos humanos, entre as quais a Amnistia Internacional, o porta voz governamental  frisou que “na China há apenas pessoas que violam a lei, não há dissidentes".