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Américo Duarte (1942-2023)

O deputado à Assembleia Constituinte eleito pela UDP faleceu esta segunda-feira.
Américo Duarte na Constituinte.

Operário da Lisnave, Américo Duarte tornou-se conhecido em todo o país por ter sido deputado na Assembleia Constituinte, em 1975, eleito pela UDP. Na página da Convergência, informa-se que faleceu esta segunda-feira aos 80 anos, vítima da doença de Parkinson.

Américo dos Reis Duarte nasceu a 29 de outubro de 1942, em Campolide, Lisboa. Tinha como alcunha o “Liberdade” de Queluz. Filho de um operário da Carris, começou a trabalhar aos 11 anos, e “passou pela Sorefame, como serralheiro, e pela Guerra Colonial, em Angola, contra a sua vontade” diz aquele portal. Depois disso, voltou a ser mecânico de bordo na Lisnave. Aí, “participou nas lutas e greves operárias em pleno regime fascista. Depois do 25 de abril, eleito para a Comissão de Trabalhadores do estaleiro naval da Lisnave, foi um dos organizadores da grande manifestação de 12 de novembro de 1974”, acrescenta-se

Sobre ela disse ao Público: “metemos na rua a maior manifestação operária do país. Íamos todos de fato-macaco, alinhados em colunas de sete elementos. Cada grupo tinha capacetes brancos, amarelos, verdes ou azuis. Organizados, como uma parada militar. (…) Quando nos viram assim tão bem organizados, os militares e o PCP ficaram preocupados. O próprio PC não concordava com a manifestação. Vem um indivíduo dizer-me que o Melo Antunes e o Vítor Alves estavam na Madragoa, na tasca dos caracóis, para falar comigo. Estavam a abster-se de deixar vir tropa para a rua e queriam que eu lhes dissesse qual era o objetivo da manifestação. Fui lá com o Eduardo Pires. Tinham um carro à porta da Lisnave com um daqueles transmissores, em contacto com as chefias. Dizem-nos: “Estamos a pensar, e não queremos pensar nisso, que vocês vão de forma militar e querem ocupar emissoras e assim.” Disse-lhe que não tínhamos ideias bélicas. Só estávamos a reivindicar melhores condições de vida.”

A sua participação política começa com uma ligação ao PCP ainda na Sorefame e quando também estudava ao mesmo tempo à noite na Escola Industrial e Comercial de Sintra. Vendia o Avante mas nunca foi militante. Depois do 25 de Abril, adere à UDP e torna-se membro do seu Conselho Nacional.

O cabeça de lista do partido nessas eleições para a Constituinte em 75 fora João Pulido Valente. Só que este foi afastado pelo partido antes de tomar posse e o seguinte na lista era Américo Duarte. Ao Público disse que “nem sabia que era o segundo da lista. Não sabia o que era uma Assembleia Constituinte” e que “hoje estou arrependido de não ter forçado que o João se mantivesse. Foi um dos melhores camaradas que eu conheci, na política e na UDP. Um grande companheiro. Socialmente ele era mais do que eu, era doutor e ficava lá melhor”.

Fez-se notar desde logo. A 3 de junho de 1975, com 33 anos, tornou-se o primeiro deputado a tomar a palavra na Constituinte. Não poupou nas palavras, criticou a presença no órgão de membros do anterior regime e chamou então a Mota Amaral “destacado fascista”. No órgão que classificou como “um ninho de lacraus”, “sozinho no meio dos trutas, homens da política” fez-se ouvir. E falou mais de uma centena de vezes naquele órgãos e, para além das intervenções, apresentou cerca de trinta requerimentos.

Depois do 25 de novembro de 1975, por decisão da direção da UDP, foi substituído por Afonso Dias e voltou ao seu posto de trabalho. Afastou-se daquela organização no Verão de 1976 e apoiou a candidatura presidencial de Otelo. Fez parte da direção da Organização Unitária de Trabalhadores que mais tarde se dissolveu. Depois disso não voltou a ter participação político-partidária.

Em nota publicada nas redes sociais, a Associação Política UDP "recorda o contributo do representante operário que deu voz às aspirações revolucionárias da sua classe e endereça à sua família e amigos as suas sinceras condolências".

 

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