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Ambientalistas congratulam-se com fim do projeto da barragem de Fridão

Após o anúncio de não avançar com a barragem de Fridão, no rio Tâmega, várias associações e autarcas congratularam-se com a decisão. Maria Manuel Rola, deputada do Bloco, considera que esta é "uma importante vitória da população de Amarante e do movimento ambientalista”.
Manifestação em 2010 contra o projeto da barragem do Fridão. Foto publicada no arquivo Ephemera.

A associação ambientalista Zero, através de um comunicado, afirmou que considerava que a construção da barragem constituiria “um risco considerável para as populações”.

“Esta barragem, adjudicada à EDP no âmbito de um Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH), aprovado pelo Governo em 2007, alvo de um estudo de impacte ambiental que viabilizava a obra, já tinha uma declaração de impacte ambiental sucessivamente prorrogada o que do ponto de vista técnico e político e até legal não tinha sentido face a mais de uma década em que as circunstâncias ambientais, sociais e económicas mudaram consideravelmente”, pode ler-se no comunicado.

Para a Zero, aquela seria uma barragem “cuja qualidade da água seria inadequada, praticamente com uma finalidade exclusiva para produção hidroelétrica, mas com reduzida rentabilidade duvidosa”. A construção da barragem constituiria ainda “um risco considerável para as populações a jusante”.

A Quercurs também se congratulou com esta decisão, considerando que a construção era apenas “um negócio de rendas”.

“Do ponto de vista económico e de produção de energia não tinha sentido (…). No fundo aquilo era um negócio das rendas das barragens. Porque o que interessava eram as rendas e, deixando cair as rendas, a própria EDP desinteressou-se pela barragem [de Fridão], e ao que parece, nem sequer vai haver indemnizações por causa do cancelamento da barragem", afirmou João Branco, ex-presidente e atual tesoureiro da Quercus, citado pela Lusa.

O dirigente considera que esta decisão é o reconhecimento, tanto da parte do governo como da EDP, de que a barragem de Fridão “não era necessária, nem economicamente interessante”.

“Vemos com alegria, mas também com algum amargo de boca porque as outras barragens do Tâmega acabaram por ser construídas. Ainda assim, acabou por ser uma vitória para os movimentos que lutaram contra as barragens no Tâmega, porque apesar de terem sido construídas as outras barragens, acabou por não se fazer a de Fridão e mantém-se ali uma zona do rio Tâmega ainda selvagem”, afirmou.

Entretanto, também já alguns autarcas vieram reagir.

O presidente da Câmara de Celorico de Basto, Joaquim Mota e Silva, também citado pela Lusa, terá afirmado que, perante o cancelamento da barragem de Fridão, “tudo fará” para “embargar” as três barragens a montante e evitar um “drama colossal” no rio Tâmega e no concelho. “Para garantir que em Celorico de Basto haja água no verão e a mesma não seja retida nas três barragens a montante da de Fridão, e para que não haja descargas e inundações no inverno, vamos lutar pelo embargo e cancelamento dessas três barragens”, afirmou, referindo-se às empreitadas em curso em Daivões, Gouvens e Alto Tâmega, incluídas no Sistema Eletroprodutor do Tâmega, concessionado à Iberdrola.

Notando que “não foi estudado o impacto ambiental da não construção da barragem de Fridão conjugada com a construção de outras três a montante” [as de Daivões, Gouvens e Alto Tâmega, em construção nos concelhos de Ribeira de Pena, Vila Pouca de Aguiar, Boticas e Chaves, no distrito de Vila Real], o autarca considera estar perante um “drama colossal” e um “problema grave”.

“Os estudos de impacto ambiental foram feitos com a realidade da construção de quatro barragens. Num cenário em que a mais a jusante não é construída, temos um problema grave nesta zona do Tâmega”, afirmou, acrescentando ainda que, com a construção das outras três barragens, a zona do rio Tâmega do concelho de Celorico de Basto ficará, no verão, com “a água retida” naquelas infraestruturas e que, no inverno, terá “cheias grandes”.

Por sua vez , o presidente da Câmara de Amarante, José Luís Gaspar, também citado pela Lusa, congratulou-se com a decisão do governo, sublinhando que um eventual colapso submergiria a cidade “em 13 minutos”.

“Estávamos a falar de uma parede com 97 metros de altura situada a oito quilómetros do centro de Amarante. Em caso de queda, e os acidentes acontecem, em 13 minutos teríamos a cidade submersa, incluindo o mosteiro de São Gonçalo”, afirmou. Gaspar referiu ainda que a jusante da barragem, a quatro quilómetros da cidade, seria construído um “embalse” para regularizar o caudal que teria “um impacto muito negativo” em termos ambientais.

Já o presidente da Câmara de Mondim de Basto considerou que “é positivo” que se tenha acabado com o impasse à volta da barragem de Fridão. Para mais, alertou para os prejuízos causados no município e populações nestes dez anos.

“Goste-se ou não, pelo menos está tomada a decisão e acabou o impasse, e isso é positivo. É positivo que tenha acabado este impasse e que o Governo tenha decidido dentro do prazo. Lamento é que o Governo não tenha articulado com os municípios esta decisão e devia tê-lo feito”, afirmou Humberto Cerqueira, citado pela Lusa.

Maria Manuel Rola, deputada do Bloco, também se congratulou com esta decisão através das redes sociais. “Uma das razões do desinteresse da EDP tinha que ver com uma Declaração de Impacto Ambiental muito exigente. Uma comédia habitual da EDP.”, afirmou, considerando que esta é “uma importante vitória da população de Amarante e do movimento ambientalista”.

Em declarações ao Esquerda.net, Maria Manuel Rola afirmou que “esta decisão é uma vitória que já devia ter sido conquistada há muito tempo,mas que não pode deixar de ser celebrada, quer pela população de Amarante, que se tem mobilizando contra a construção desta barragem, que traria vários problemas de segurança, quer pelas associações ambientalistas”.

“Sabemos que as barragens têm um impacto muito grande na emissão de gases com efeito de estufa, nomeadamente o metano”, afirmou, acrescentando que, com a construção da barragem, o rio Tâmega seria ainda mais artificializado”.

A deputada lembrou ainda que este “é um rio que até há bem pouco tempo era o único que corria livremente no nosso país e que já tem três barragens em construção”.

Maria Manuel Rola considera ainda que “com a mobilização que temos tido, começa a mudar-se a mentalidade relativamente à transmissão energética de que necessitamos: as barragens e a produção hidroeléctrica não respondem às necessidades de transição energética”.

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