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Alunos deram lições de vacinação cívica ao negacionismo

A adesão das crianças, jovens adolescentes e seus encarregados de educação aos planos de vacinação dirigidos às diferentes fases etárias da população escolar foi uma resposta cívica, esclarecida e responsável. Artigo de José Carlos Lopes.
Jovens entre os 12 e os 15 anos começaram a ser vacinados, Centro de Vacinação de Alcabideche, Cascais, 21 de agosto de 2021 – Foto de Tiago Petinga/Lusa
Jovens entre os 12 e os 15 anos começaram a ser vacinados, Centro de Vacinação de Alcabideche, Cascais, 21 de agosto de 2021 – Foto de Tiago Petinga/Lusa

Foi assumida finalmente a recomendação da Direção Geral de Saúde (DGS) para vacinação universal das crianças dos 12 aos 15 anos, que o Governo português acabou por decidir implementar, a exemplo de idêntica opção que vários países já estavam a promover, alargando aos 16 e 17 anos de idade. Ainda que os diferentes tipos de dúvidas e hesitações sobre vacinar ou não este escalão etário, não seja consensual entre a comunidade médica, como acontece em tantos outros países - ou segundo as prioridades sugeridas pela Organização Mundial de Saúde e o Centro de Controlo de Doenças Europeu que chamaram a atenção para a escassez de vacinas em países mais carenciados, numa lógica de solidariedade internacional entre os povos na luta contra esta doença - tenham feito despertar e agitar um natural debate na opinião pública. Os ativistas antivacinas bem tentaram ocupar o palco proporcionado pela falta de robustez nas decisões, sobretudo politicas, para animarem e cavalgarem dúvidas, através de repugnantes campanhas obscurantistas e ameaças intimidatórias, cuja resposta mais eficaz veio dos próprios jovens alunos, que deram autênticas lições de vacinação cívica ao negacionismo, através de uma adesão massiva e consciente à toma da vacina.

A adesão das crianças, jovens adolescentes e seus encarregados de educação aos planos de vacinação dirigidos às diferentes fases etárias da população escolar foi também uma resposta cívica, esclarecida e responsável, depois de dois anos letivos marcados pela pandemia, que obrigou ao confinamento para isolamento profilático e ao recurso a aulas online que em muitas das experiências pedagógicas e psicológicas não deixaram grandes saudades, tal a necessidade de convívio e relação social em meio escolar, que precisa de ser recuperado e estabilizado no próximo ano letivo que arranca na primeira quinzena do próximo mês. Razão pela qual não se entendeu o arrastamento das medidas de vacinação entretanto adotadas, quando “as crianças também são transmissoras do vírus e com a variante Delta (responsável pela quarta e mais recente vaga) tornaram-se mais transmissoras”, segundo o médico especialista em Saúde Pública Bernardo Gomes, referido pelo Expresso (06/08/2021), que acrescenta: “a evidência científica diz que é preferível vacinar as crianças”, porque se trata de “um contributo coletivo na contenção do vírus”, através desta mobilização dos jovens que poderia ir ainda mais longe, já que por enquanto, deixa os alunos do 2.º ciclo (abaixo dos 12 anos) fora do plano de vacinação, obrigando a diferenciadas medidas preventivas e de segurança por ciclo nos agrupamentos escolares. Uma estratégia que naturalmente só pode ser coerente, apostando de igual forma na vacinação de todos os adultos.

Da parte dos jovens, o exemplo que deram ao país foi de esperança e demonstração de maturidade cívica ao aderirem com entusiasmo e sem medo à vacinação, acreditando na ciência. Porque, como diria à imprensa o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task-force do processo de vacinação, na sequência dos protestos propagandistas e insidiosos, de que acabava de ser alvo em Odivelas (14/08/21) por um grupo antivacinas, “o negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos. Morreram mais de 18 mil pessoas em resultado desta pandemia”, referindo ainda que o obscurantismo “pode ajudar a pandemia”, como aliás, vários exemplos de governantes e apoiantes do negacionismo e da intolerância, têm mostrado ao mundo que já ultrapassa os 4 milhões de morte por covid-19, destacando-se ainda os efeitos da gestão da extrema-direita de Donald Trump ou Jair Bolsonaro, este denunciado em Haia, na canção, declarações de diversas personalidades ou manifestações, por comportamentos genocidas, que um dia os alunos na escola multicultural partilharão vivências de várias gerações marcadas por momentos dramáticos da pandemia covid-19 que os manuais escolares de história assinalarão, sem fundamentalismos limitadores da liberdade e da democracia, que nestes dias representou a vontade e determinação de aderir à vacinação contra uma doença cobarde.

Artigo de José Carlos Lopes, em Ovar.

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