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Altice: mais de 1500 trabalhadores protestam contra despedimento coletivo

Em junho, a dona da Meo anunciou que iria avançar com um despedimento coletivo de 256 pessoas. Os trabalhadores consideram a decisão injustificável face ao recorde de faturação da empresa.
"Se a Altice passar indolor por este episódio, podemos estar a assistir à transformação radical do tecido empresarial português", alertam os trabalhadores.
"Se a Altice passar indolor por este episódio, podemos estar a assistir à transformação radical do tecido empresarial português", alertam os trabalhadores.

A concentração de trabalhadores esta tarde juntou mais de 1500 trabalhadores frente à sede da antiga Portugal Telecom, hoje MEO/Altice, seguindo depois para o Ministério do Trabalho.

Ao esquerda.net, Rui Moreira, trabalhador da Altice há 13 anos e membro da Comissão de Trabalhadores, considera que “uma empresa destas, num momento onde muitas pessoas tiveram de passar mais tempo em casa em teletrabalho, em que faturou mais do que faturou no ano anterior, é absolutamente incompreensível como é que invoca problemas de negócio para colocar pessoas no desemprego”.

 

A deputada Isabel Pires, que acompanhou a greve “em solidariedade”, disse que este despedimento coletivo é uma manobra de “substituição de trabalhadores com direitos por trabalhadores precários, com salários mais baixos. Este tipo de atuação por parte da Altice não é nova, mas atingiu proporções que consideramos exigir uma resposta política do governo”, nomeadamente na eliminação das normas da troika do Código Laboral, algo que foi sucessivamente recusado pelo governo, e que “permitem que empresas com lucro e sem problemas económicos procedam a despedimentos coletivos de forma barata”.

Em entrevista ao Esquerda.net, Rui Moreira relembra que “a fusão recente - informação que saiu na comunicação social por estes dias - da incorporação na MEO de quatro outras sociedades do grupo (PT Móveis, Portugal Telecom Imobiliária, PT Cloud e Data Centers e a M.Call) traz “água no bico” e deixa antever alguma outra operação cujos contornos ainda não conhecemos e quiçá só mais lá para a frente é que iremos perceber a consequência dos tão badalados “actos de gestão”. A verdade é que a Altice mudou radicalmente a herança da ex-PT: do anterior império, de que não restam muitas saudades, nomeadamente dos seus gestores, já praticamente não sobra nada, mas por si só isso não é necessariamente bom”.

E avisa que “se a Altice passar indolor por este episódio, sendo um farol para outras multinacionais fazerem o mesmo - afinal, a transmissão de estabelecimento, em 2017, esteve para ser isso mesmo - podemos estar a assistir à transformação radical do tecido empresarial português, com recurso quase exclusivo a empresas de trabalho temporário, cheias de trabalhadores com vencimentos horríveis e sem protecção laboral, com proximidade nula às organizações que representam trabalhadores (que devido às dificuldades de entrada nestas “novas” empresas, não conseguirão sobreviver), sem voz nem comando, abandonados às “sortes” das “altices da vida”. A greve de 21 será apenas mais uma fase do processo de combate e resistência que temos todos de fazer, espero que seja um sinal inequívoco, para dentro e para fora. Não é tempo de negociar, é tempo de cerrar os dentes”, conclui.

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