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Alternativas para um país de pernas para o ar

Na sessão de abertura do Congresso Democrático das Alternativas, foi feita a defesa de um esforço de convergência para encontrar denominadores comuns que construam a alternativa para um país arrasado pelo memorando da troika.
Foto de Congresso das Alternativas no flickr

O salão nobre da Aula Magna totalmente cheio recebeu na manhã desta sexta-feira a sessão de abertura do Congresso Democráticos das Alternativas, com algumas ideias comuns a todos os oradores: a crítica ao memorando da troika, a certeza de que há alternativas à atual crise e a importância da busca de convergências e denominadores comuns.

Também foi muito comentada a gaffe da cerimónia de comemoração do 5 de Outubro, onde a bandeira da República portuguesa foi hasteada ao contrário. “Encontram-se nesta sala os cidadãos que estão contra este país de pernas para o ar”, resumiu o sociólogo e dirigente do Bloco de Esquerda José Soeiro.

A sessão foi iniciada por um discurso acutilante de Vasco Lourenço, da Associação 25 de Abril. Um diagnóstico impiedoso da atual crise, onde a república está “moribunda, vergada pela corrupção e a submissão aos mercados financeiros”, num país cuja “Constituição foi para o baú” e os órgãos de soberania não representam os portugueses. Um país cujo “povo é humilhado”, um país sob intervenção estrangeira, um “Estado capturado por interesses alheios aos do povo”, disse o militar de Abril, que sublinhou que não foi o Estado social que trouxe o país à atual crise. “Os gastos com educação ou saúde não aumentaram nos anos anteriores”, recordou, apontando a corrupção e a especulação financeira como os reais responsáveis pela crise.

O governo, disse o militar de Abril, é parte do problema, com ministros que fogem ao povo, entrando e saindo pelas portas das traseiras: “Presidente da República e governo já demonstraram não serem capazes nem quererem alterar a situação”, disse, acusando o executivo de estar a provocar o surgimento dos novos escravos que um dia se levantarão, como novos Spartacus.

Concluiu defendendo a busca de denominadores comuns, sabendo porém que não há varinhas mágicas, e citou Platão: “O preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por quem te é inferior”.

José Soeiro afirmou haver um “não” comum presente na sala – a rejeição do memorando da troika, e defendeu a procura de um “sim” comum, sublinhando que é possível “a convergência contra a política do memorando que nos destrói”, e que “este congresso desafia os sectarismos”. Concluiu a intervenção evocando Miguel Portas, que “viu este comboio partir mas não o pôde acompanhar”.

A economista Manuela Silva, do ISEG, destacou o repúdio à ideia de inevitabilidade do desemprego, defendendo entre outras propostas a mais justa distribuição da produção e da riqueza, afirmando que a desigualdade é inimiga da coesão e da própria democracia. E concluiu fazendo votos de que o dia seja rico de ideias e emoções, elaborando alternativas viáveis capazes de fazer renascer as esperanças numa sociedade justa, democrática e coesa.

O jurista Pedro Delgado Alves, deputado e líder da Juventude Socialista, disse que o episódio da bandeira de Portugal ao contrário fez lembrar um romance de Saramago, defendendo em seguida que a lógica do memorando tem de ser invertida.

Finalmente, o jurista do trabalho Jorge Leite defendeu que o Congresso deve contribuir para ultrapassar a incapacidade das esquerdas para se entenderem melhor para um futuro do país. Denunciando três escândalos sociais que existem em Portugal – a fome, o desemprego e a desigualdade, apontou como a principal responsável da crise a globalização sem freio, “porque é sem freio que o capital se sente bem.”

Ainda durante a manhã, o congresso dividiu-se em debates em torno dos seus cinco eixos temáticos.

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