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Almaraz: mais uma década de nuclear?

A central nuclear de Almaraz é uma peça importante a ser jogada pelas principais empresas elétricas de Espanha. Esta terça-feira voltarão a reunir em busca de um acordo sobre o pedido de renovação da licença de exploração que tem de ser feito até 31 de março. O prolongamento da exploração será pelo menos até 2028.
Foto de António Cotrim/Agência Lusa

São três as empresas proprietárias da polémica central nuclear de Almaraz que fica apenas a uma centena de quilómetros da fronteira com Portugal. A Iberdrola detém 53%, a Endesa 36% e a Naturgy 11%.

Com o prazo da possibilidade de um pedido de renovação da licença a terminar a 31 de março, estas empresas detentoras da central nuclear, que começou a operar em 1981, vão-se reunir na próxima terça-feira para tentar obter um acordo.

Este prazo de encerramento da central foi-se estendendo sucessivamente. Inicialmente, estava previsto que Almaraz fechasse em 2020. Depois abriu-se uma janela até 2024. Agora, no cenário mais provável, a central poderá ficar a funcionar até 2028. E há quem queira até ir mais além.

Esta última data era, aliás, uma das exigências dos trabalhadores da central nuclear que tinham decidido fazer ações de protesto todas as terças e quintas-feiras até ao dia 31 de março. Dia 11 deste mês fizeram uma manifestação com cerca de quatro mil pessoas junto com uma plataforma denominada “Cidadania Viva”.

As três empresas têm diferentes estratégias face ao nuclear e diferentes relação prejuízo/lucro na sua exploração. Por isso, a última reunião durou sete horas e não foi pacífica. Iberdrola e Naturgy querem a continuação da central até 2028, desde que isso não implique investimentos extraordinários e de acordo com os preços dos mercados. A Endesa recusa porque tal pressuposto não faz parte do acordo com o Ministério para a Transição Ecológica. Alega que os investimentos necessários ao funcionamento da central não podem ser decididos de acordo com os interesses dos proprietários mas devem ser decididos pelo Conselho de Segurança Nuclear.

Claro que, por detrás da troca de argumentos estão os números: as condições da manutenção avançadas pela Iberdrola beneficiá-la-iam em 100 milhões de euros anuais e prejudicariam a Endesa em 60 milhões/ano.

Por outro lado, a Iberdrola tem avançado com a posição de que o nuclear não é rentável devido aos investimentos dispendiosos em segurança e aos altos impostos. Por sua vez, a Endesa tem defendido que as centrais existentes estão em bom estado e, por isso, esta tecnologia dever-se-ia manter. Quer, aliás, incluir uma cláusula no acordo que permita prolongar a vida útil da central de Almaraz até 2030.

Ignacio Galán, presidente da Iberdrola, assegura que as instalações de Almaraz funcionarão “pelo menos” até 2028 e prevê, depois disso, “trabalhos de desmantelamento” que durariam 15 anos.

Seja como for, quando a central fechar, a questão do nuclear não fica encerrada na fronteira estremenha. Em Almaraz ficará, muito tempo depois do encerramento da central, um aterro de resíduos nucleares.

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