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Alemanha: eleições regionais confirmam ameaça da extrema-direita

O partido de extrema-direita AfD foi a segunda força nas eleições regionais na Saxónia e Brandenburgo. Resultado traz à tona problemas sociais na antiga Alemanha de Leste e confirma a extrema-direita como ameaça que marcará os próximos anos na política do país.
Parlamento da Saxónia, em Dresden. Foto: Kolossos/Wikimedia Commons.
Parlamento da Saxónia, em Dresden. Foto: Kolossos/Wikimedia Commons.

Na Alemanha, as eleições regionais na Saxónia e em Brandenburgo confirmaram a tendência de ascensão da extrema-direita, à custa dos dois partidos tradicionais do centro e também da esquerda. O choque só não foi maior porque centro-direita (CDU) e centro-esquerda (SPD), perdendo votos, conseguiram manter o primeiro lugar. Mas em ambos os estados o partido de extrema-direita AfD saltou para o segundo lugar. O outro derrotado foi a esquerda do Die Linke, partido habituado a ter forte expressão eleitoral no Leste, a que pertencem as duas regiões, pois integra os sucessores dos antigos comunistas da RDA, que ali tinham forte implantação.

Na Saxónia, a CDU de Angela Merkel perdeu sete pontos percentuais mas reteve ainda assim com 32% dos votos o primeiro lugar, que ocupa desde a reunificação. Em segundo lugar ficou a AfD com 27,5% dos votos, praticamente o triplo dos 9,7% que teve em 2014. Em terceiro lugar ficou a esquerda do Die Linke com 10,4%, uma queda acentuada em relação aos 18,9% e o segundo lugar anteriores. Em quarto lugar, os Verdes com 8,6% (+2,9 pp). Em quinto, e último a eleger deputados, os social-democratas do SPD com 7,7% (-4,7 pp).

Em Brandenburgo, o SPD reteve também a liderança na região, que vem desde a reunificação, mas com perdas importantes: desceu de 31,9 para 26,2%. Em segundo lugar, destronando os democratas-cristãos, de novo a extrema-direita: a AfD quase duplicou a votação anterior de 12,2% para 23,5%. Em terceiro lugar, a CDU com 15,6% (-7,4 pp), seguida em quarto pelos Verdes com 10,8% (+4,6 pp). Em quinto, último a eleger, o Die Linke com 10,7%. De novo, uma queda significativa para o partido, que fora nas eleições anteriores a terceira força com 18,6%, e foi na década de 2000 a segunda força, próximo dos 30%.

A participação eleitoral foi maior em ambos os estados que há cinco anos. Passou de 48 para 60% em Brandenburgo, e de 49 para 65% na Saxónia.

Apesar da subida da extrema-direita, o tom dominante nos dois partidos tradicionais de centro, e também na imprensa, era de alívio por a AfD não ter conquistado o primeiro lugar que ambicionava. O voto AfD nas duas regiões, sendo muito maior que nas últimas regionais de 2014, pelo menos é semelhante ao das legislativas de 2017, quando o partido irrompeu como força parlamentar.

Todos os partidos recusam coligar-se com a AfD, apesar de na CDU haver setores que pressionam nesse sentido, o que será uma divisão importante na direita alemã nos próximos anos. Assim, estes resultados deverão sobretudo dificultar a formação de maiorias nos dois Estados. Desde 2014, a Saxónia teve uma coligação de centro CDU-SPD a governar, Brandeburgo uma coligação SPD-Die Linke. Com estes resultados, na Saxónia será preciso alargar a coligação SPD-CDU aos Verdes para formar maioria, uma vez que a CDU recusa acordos com o Die Linke. Em Brandenburgo, analogamente, será necessário juntar os Verdes à anterior maioria SPD-Die Linke.

O resultado está a ser visto como a consolidação da extrema-direita como força incontornável para os próximos anos na política alemã, vista com uma seriedade única dado o passado do país. Da direita à esquerda, os partidos por enquanto ainda não encontraram antídoto. Para já os maiores sucessos de mobilização antifascista têm-se visto na sociedade civil, com o movimento Unteilbar a colocar há uma semana 40 mil pessoas contra a extrema-direita nas ruas de Dresden, a maior manifestação que a cidade viu desde os tempos da reunificação.

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