Adeus, Miguel

O Miguel desde que nasceu que fez uma diferença grande. Agora que morreu não é preciso sequer um instante para fazer uma ideia da falta que faz. Artigo de Miguel Esteves Cardoso, publicado no jornal “Público”.

29 de abril 2012 - 11:18
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Morreu Miguel Portas. Não era meu amigo, mas era como se fosse. Morreu a trabalhar, a combater, não o cancro dele, que era uma coisa pessoal, mas as forças que fazem mal às pessoas, segundo os ideais generosos e práticos que eram os dele.

Dava-se bem com toda a gente. Nunca tirava férias da pessoa política que era; nunca cedia e nunca deixava passar uma oportunidade para defender as ideias e as muitas, muitas pessoas que defendia. A última vez que o vi — este ano, na Praia das Maçãs, onde ele viveu — fiquei feliz. Ficava sempre feliz quando o via. Ele era um malandro sério, um raio de uma boa companhia, que divertia enquanto desinquietava. Fez-me sempre sentir culpado e egoísta — as duas piores coisas — mas, ao mesmo tempo, sem nada de religioso e tudo de humano, perdoava-me. Nunca tentou converter-me ou redimir-me. Era essa a generosidade e o seco humor dele: “Tu deixa-te estar como estás que nós fazemos o trabalho por ti”.

Toda a família Portas que eu conheço tem esse humor, essa inteligência e essa bondosa tolerância. Não podiam ser mais diferentes uns dos outros: e, no entanto, conseguiram, sem querer que fossem mais parecidos ou — suprema lição — fazer por isso.

O Miguel desde que nasceu que fez uma diferença grande. Agora que morreu não é preciso sequer um instante para fazer uma ideia da falta que faz. Às pessoas que o fizeram, acompanharam e amam, represento a dor e a saudade de todos os que gostam e sentem a falta dele. Tristeza.

Artigo de Miguel Esteves Cardoso, publicado no jornal “Público” a 26 de abril de 2012.

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