Mês -1 | Março 1974
O episódio das Caldas
A 5 – Marcelo põe a sua “política ultramarina” à reflexão da Assembleia Nacional; a “Comissão Parlamentar para o Ultramar” apresenta uma moção de apoio, para discussão e votação.
A 8, após debate (durante o qual Mota Amaral, defensor de uma “autonomia progressiva e participada do Ultramar”, se opõe aos “ultras” Veiga de Macedo, Tenreiro e Casal-Ribeiro), a moção é aprovada.
A 14 – A famosa “brigada do reumático” vai a S. Bento afirmar lealdade a Marcelo, com as ausências de Spínola e Costa Gomes; na mesma tarde são exonerados.
A 16 – 20 viaturas do regimento das Caldas vêm até Lisboa, e regressam pelo mesmo caminho, face à tropa que encontram no aeroporto; mais tarde, os oficiais rendem-se a unidades vindas de Tomar.
Desde o dia 14, os “antigos alunos do Colégio Militar” multiplicam reuniões, assembleias, convívios, sempre incluindo Spínola, Costa Gomes e oficiais “próximos”.
Finalmente, o MFA
A 5, em Cascais, o Movimento dos Capitães passa a MFA, e é aprovado o seu primeiro texto programático.
A 13, no Clube Militar Naval, oficiais da Armada solidarizam-se com três oficiais (do Movimento) detidos, entre os quais Vasco Lourenço.
A 24, a Comissão Coordenadora do MFA aprova o plano de operações militares e designa Otelo para o dirigir, em data entre 20 e 27 de Abril.
Livros & canções
Na 2ª quinzena de Fevereiro estava nos tops dos autores portugueses o livro “Novos contos do gin tónico”, de Mário-Henrique Leiria; no 1º de Março, o “Portugal e o Futuro”, de Spínola; 1º Encontro da Canção Portuguesa no Coliseu, a 29, com o Zeca, Adriano, Manuel Freire e outros (e muita polícia pelas redondezas).
Fortunas
Homilia das Cinzes, de D. António Ribeiro, (já então) Cardeal Patriarca de Lisboa: “Há fortunas mal adquiridas, há riquezas desonestamente utilizadas (…), homens que transformam o dinheiro em ídolo que constantemente adoram”. Entre eles, refere “os envolvimentos em fraudulentas especulações de Bolsa, procurando lucros momentâneos indevidos”. Hoje, deixa estas questões (sempre actuais) ao bispo de Setúbal.
Europa
De um comentário do “Expresso”: “Não há dúvida de que as Comunidades Europeias atravessam actualmente um grave período de crise. Crise económica, crise política e… sobretudo crise de confiança nas suas próprias capacidades para se imporem com respeito à opinião pública mundial (…), dando um espectáculo de irresolução, impotência e confusão”. Hoje, ao menos, já participamos no espectáculo.
Internacional
Vitória escassa dos trabalhistas em Inglaterra: governo minoritário de Wilson.
Cai a ditadura militar grega.
Cai o governo italiano, abalado por um caso de “contribuições” entregues por importantes companhias a figuras políticas de relevo, em troca de “certos favores”. Comenta o “Times”: “Em Itália o próprio PC hesita em explorar um grande escândalo envolvendo seis ministros e os secretários dos partidos governamentais, por recear os prejuízos que isso pode trazer à democracia”. Serão precisos 20 anos, uma mudança de nome e mais umas centenas de escândalos para perder o receio.