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“Já venci”, diz Snowden

Na primeira entrevista dada no seu refúgio na Rússia, o ex-analista da CIA declara a sua dissidência em relação ao governo, mas a fidelidade à Constituição e ao povo dos Estados Unidos. E reafirma que o seu objetivo era dar à sociedade a oportunidade de determinar se queria mudanças.
Snowden diz que fez um juramento de fidelidade à Constituição dos Estados Unidos e cumpriu-o.

Seis meses depois de as primeiras revelações de Edward Snowden terem sido publicadas no diário americano The Washington Post e no britânico The Guardian, o ex-analista da CIA aceitou dar uma longa entrevista ao mesmo jornal americano para fazer um balanço do impacto que as revelações tiveram na opinião pública mundial e na sua própria vida.

"Para mim, em termos de satisfação pessoal, a missão já foi cumprida. Já venci", disse Snowden em Moscovo, na entrevista publicada terça-feira, ressalvando que "não queria mudar a sociedade", mas dar-lhe "a oportunidade de determinar se deveria mudar-se a si mesma". O seu objetivo, insistiu, "era que os cidadãos pudessem dar sua opinião sobre como querem ser governados".

Fidelidade à Constituição

Em resposta ao diretor da NSA (Agência Nacional de Segurança), Keith B. Alexander, e ao diretor nacional de informações James R. Clapper Jr., que o acusam de ter violado um juramento de segredo, Snowden responde que o juramento de fidelidade não é de segredo. “É um juramento à Constituição. Esse juramento eu mantive, mas Keith Alexander e James Clapper” não o fizeram.

E prosseguiu: "Não estou a tentar destruir os Estados Unidos, trabalho para melhorar a NSA", argumentou. "Na verdade, eu continuo a trabalhar para a NSA, eles são os únicos que não se dão conta disso."

É melhor fazer alguma coisa do que nada fazer

A questão é que a NSA deixou de ser uma agência para procurar os inimigos dos EUA e passou a vigiar em massa todo o povo americano. Acontece que a privacidade é um direito inalienável, acredita Snowden. Os seus colegas ficavam espantados “quando descobriam que recolhíamos mais [informação] nos Estados Unidos sobre os americanos que na Rússia sobre os russos”, mas preferiam não saber mais.

A sua decisão de tornar as revelações públicas foi a consequência natural de constatar que “é melhor fazer alguma coisa do que nada fazer”. O seu medo maior era que a reação às suas denúncias fosse de indiferença. Mas não foi.

Google, Microsoft e Yahoo temem pelos seus negócios

Depois das revelações de Snowden, as gigantes de informática Google, Microsoft e Yahoo explicaram ao governo americano que o que estava em causa era a destruição da indústria de mais alta tecnologia dos EUA, que não podia oferecer qualquer garantia de que os seus servidores não eram um recreio para os espiões da NSA. Anote-se a curiosidade: as gigantes não se importam nada com a privacidade do povo; mas com a dos seus clientes importam-se e muito, porque o que está em causa não são direitos e sim negócios. Resultado: as empresas estão a gastar fortunas para introduzir a cifragem de dados em todos os milhares de quilómetros das suas fibras óticas, para que o governo dos EUA não possa recolher em massa todos os seus dados.

Vida austera na Rússia

Atualmente, Snowden vive num lugar desconhecido na Rússia, onde foi forçado a ficar quando os EUA lhe retiraram o passaporte. O objetivo de ir para a América Latina está, por enquanto, adiado.

Na entrevista, contou que leva uma vida "ascética" em Moscovo, concentrado na Internet, o que, segundo ele, não é um problema, já que nunca teve necessidade de sair com muita frequência.

"Sempre foi difícil tirar-me de casa. Não tenho muitas necessidades. Ocasionalmente há coisas para fazer, ver, pessoas para encontrar. Mas se eu puder ficar sentado, a pensar, escrever e conversar com alguém, para mim isso tem mais significado do que sair para passear", afirmou.

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