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«Fui sempre mais de jogar fora do baralho»
“Fiz seguramente várias asneiras, mas a minha vida valeu a pena porque ajudei os outros”, disse na sua última entrevista.
Miguel Portas estava internado no hospital ZNA Middelheim, em Antuérpia. O eurodeputado do Bloco de Esquerda resistiu a inúmeras operações e aos longos tratamentos de quimioterapia, mas o seu estado de saúde agravou-se inesperadamente nas últimas 24 horas.
Encarou a sua própria doença como sempre fazia tudo, da política ao jornalismo: de frente e sem rodeios.
Deixa dois filhos, André e Frederico.
A vontade de transformar o Mundo nasceu com ele. Lutava “para ter o paraíso na Terra». Formado em Economia, foi jornalista durante vários anos e atualmente era “político em comissão de serviço”, como dizia, no Parlamento Europeu. Lutou até ao último segundo. Durante toda a sua doença continuou a cumprir as suas responsabilidades e estava, neste preciso momento, a preparar o relatório do Parlamento Europeu sobre as contas do Banco Central Europeu.
40 anos de ativismo político
Foi detido pela PIDE logo aos quinze anos, em 1972 e 1973, devido à sua posição contra o regime fascista.
“A PIDE interrompeu uma reunião de estudantes que estávamos a fazer numa sala de alunos na Faculdade de Medicina”, descreveu a sua detenção em 73. Foi diretamente para a sede da PIDE.
Nesse mesmo ano adere à União dos Estudantes Comunistas, integrando a Comissão Central um ano mais tarde.
Após 18 anos de militância, abandona o PCP em 1989. “Fui sempre mais de jogar fora do baralho, dizer coisas e fazer coisas que não estavam dentro das normas da 'família'”, observava. “Não podia concordar com a existência de expulsões no Partido de algumas pessoas que tinham estado numa reunião fracionária. O partido expulsou 4, mas não tocou nas outras 150. Eu tinha lá estado e não me expulsaram. Foi por uma questão ética que acabei por sair”.
Um ano mais tarde dinamiza o primeiro mega concerto em Lisboa. Enquanto assessor de Jorge Sampaio na Câmara Municipal de Lisboa para as questões culturais e urbanísticas trouxe os Rolling Stones a Lisboa. Um ponto de viragem na dinâmica das políticas culturais e promotoras do turismo na cidade.
A incessante procura de uma esquerda política forte levou-o a integrar o grupo fundador do Bloco de Esquerda. “O meu legado político é, de certa forma, o Bloco”, afirmava.
Juntar diferentes sensibilidades da esquerda num projeto comum foi um objetivo que o acompanhou até ao último dia.
Tinha 40 anos de luta política atrás de si. Esteve em várias frentes de luta partidária. Antes de integrar o Bloco de Esquerda, fundou a Plataforma de Esquerda e mais tarde, em 1994, a Política XXI.
Foi o primeiro candidato do Bloco de Esquerda. Logo em 1999 candidatou-se ao Parlamento Europeu. Não foi eleito, mas não desistiu. A esperança que tinha e que transmitia era uma das suas muitas virtudes. “O caminho continua a ser o da reconstrução da esquerda, popular, que valha de 20% para cima”, sublinhava.
Encabeçou as listas do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu novamente em 2004 e 2009. Nesta última eleição impulsionou o partido que ajudou a fundar para o estabelecer como terceira força política mais votada, com 10,73% dos votos. Pela primeira vez, o Bloco de Esquerda elegia três membros para o Parlamento Europeu.
Foi dirigente nacional do Bloco desde a fundação do movimento.
Passado jornalístico
Muitos diziam que era teimoso. Enganavam-se. Era muito mais teimoso do que isso. Começou com a revista 'Contraste' nos anos 80. Depois de passar pelo Expresso (entrou em 86) e pela sua Revista (92-94), foi com essa mesma teimosia que fundou o 'Semanário Já', em 1995. Um ano mais tarde, o projeto deu lugar à revista mensal 'Vida Mundial'.
O fascínio pelas culturas do mediterrâneo levou-o a viajar e a conhecer profundamente esta região, sobre a qual escreveu livros e realizou documentários. Foi co-autor e apresentador de duas séries documentais televisivas - 'Mar das Índias' (2000) e 'Périplo' (2004), sobre o Mediterrâneo. Publicou igualmente três livros: 'E o resto é paisagem' (2002), 'No Labirinto' (2006), sobre o Líbano, e 'Périplo' (2009), igualmente dedicado ao Mediterrâneo.
Atualmente, colaborava com a Antena 1, com o semanário Sol e com o portal do Bloco, o Esquerda.net .
Fica aqui sua última grande entrevista, à SIC Notícias (depois de carregar no play tem que aguardar cerca de um minuto para o vídeo carregar). Ouça também a entrevista de Maria Flor Pedroso, na véspera da eleição para o Parlamento Europeu em 2009.
Comentários
ESTOU EM ESTADO DE CHOQUE
ESTOU EM ESTADO DE CHOQUE POIS APESAR DE VOTAR SEMPRE NO BLOCO NÃO SOU
FILIADA E NÃO SABIA QUE O MIGUEL ESTAVA DOENTE.
OS BONS VÃO SEMPRE CEDO
A ESQUERDA PERDEU UM LUTADOR E QUE NO MOMENTO PRESENTE E UMA PERDA
INESTIMAVEL
ADEUS MIGUEL
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