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SAPEC trata-nos da saúde

O incêndio de grandes proporções só começou a ser encarado minimamente a sério quando houve a previsão de que os ventos iam mudar e a coluna tóxica poderia desviar-se para cima da cidade de Setúbal.

Uma forte coluna de fumo e gases tóxicos partia dos armazéns onde o enxofre ardia dezenas de horas seguidas, sem interrupção. As pessoas das povoações à volta começavam a aperceber-se da origem do ardor nos olhos, na garganta, das dificuldades em respirar.

Eram 3 horas da madrugada de terça feira, dia 14 de fevereiro. A administração da SAPEC conseguia mais uma vez o feito extraordinário de esconder e manipular a informação sobre o que se estava a passar ao longo de todo o dia de terça e quarta. O diretor geral afirmava sobre a coluna de fumo, tóxica, constante: “ Não há perigo.” E porque não conseguia esconder a gigantesca e interminável nuvem apenas a considerava “antipática”.

Este incêndio de grandes proporções só começou a ser encarado minimamente a sério quando houve a previsão de que os ventos iam mudar e a coluna tóxica poderia desviar-se para cima da cidade de Setúbal. As autoridades de saúde e ambiente, bem como a própria Câmara municipal, pareciam estar-se nas tintas para o pessoal das empresas à volta e das populações das aldeias que estavam a apanhar com os poluentes. Apenas temiam que na cidade pudesse rebentar o escândalo e a revolta.

E agora?

Ficou demonstrado que não podemos confiar nas ditas autoridades. O secretário de estado do ambiente, Carlos Martins, diz que não tem recomendações a fazer à SAPEC para futuro!! Ou seja, os perigos e ameaças que podem vir daquela fábrica de adubos, pesticidas e fertilizantes situada no coração do estuário do Sado parecem não o preocupar, não serão corrigidos – a SAPEC é que sabe, a SAPEC é que trata! O historial de décadas de poluição da SAPEC sobre o ambiente e a saúde humana pode continuar.

Quatro perguntas dirigidas a quem quer abafar o que aconteceu, antes que ocorra o próximo acidente:

1. Para quando a reconversão e deslocalização desta e outras fábricas perigosas, respeitando as populações vizinhas que já foram tão prejudicadas?

2. Para quando a instalação de uma rede de estações de medição do ar junto à fábrica e às aldeias à volta e um plano de emergência para enfrentar novos acidentes?

3. Quem assume a responsabilidade pelas consequências de mais este grave acidente da SAPEC nas águas, nos peixes, nas hortas, na saúde humana?

4. Que história é essa de que a Unidade Móvel de medição da qualidade do ar do Ministério do Ambiente está avariada e por isso não pôde ser deslocada para a SAPEC e monitorizar o que se estava a passar?

Artigo publicado em “O Setubalense”

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