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Quando se bate no fundo, o fundo vai mais fundo
Já vi de tudo. Orçamentos negociados em quartos de hotel (o PS com o CDS, ora quem?). Orçamentos entregues numa pen que não tinha nenhum ficheiro, a não ser a capa da proposta de lei. Orçamentos com números enganados, leis trocadas, mapas atamancados. Orçamentos de demagogia e orçamentos de austeridade. Orçamentos, todos, com aumentos de impostos disfarçados ou escancarados. Maiorias de bloqueio que impedem qualquer proposta razoável. Maiorias que forçavam comissões a reunir durante 36 horas seguidas, noite fora, para aprovar alínea a alínea um orçamento arrevesado. Orçamentos com um queijo limiano e com estradas que nunca foram construídas. Já vi de tudo, pensava eu.
Mas ainda não tinha visto um orçamento como este. Com 81% de financiamento pelas receitas fiscais. Com um aumento proporcionalmente maior para quem recebe 800 euros do que para quem recebe 10 mil. Maior para os reformados do que para quem trabalha e ainda tem forma de se defender. Com novos cortes nos subsídios de desemprego, de doença ou de funeral. Com a promessa de grandes aumentos, ainda disfarçados, nos custos de saúde ou de transportes.
E com a certeza de que, com um aumento de dívida que vai para mais 12 mil milhões (e acrescente mais 25 mil milhões de garantias bancárias), o próximo orçamento só poderá ter mais austeridade e mais impostos. Quando se bate no fundo, o fundo vai para baixo, como me dizia uma idosa há dias.
A austeridade não tem remédio: é sempre desemprego e recessão.
Por isso, a proposta da "austeridade inteligente" é vergonhosa. O PS, que quer a todo o custo manter o memorando da troika e aceitar a sua política, limita-se assim a garantir que fará igual ou, se necessário, pior, nos tempos piores que aí vêm, com a troika a radicalizar sempre as suas exigências. A esquerda, ao rejeitar o Orçamento, só pode por isso ter uma voz: demissão do governo, fim do memorando, defesa do salário e da pensão contra a pirataria financeira.
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