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Pela abolição do Empreendedorismo nas escolas
Pires de Lima já tinha lançado a ideia, no passado: o empreendedorismo deveria ser uma disciplina nas escolas, os alunos deveriam estudá-lo, absorvê-lo, curvar-se perante essa ciência. Ao lado da matemática, da história, do português, da filosofia, da química... em comparação, só o empreendedorismo, estudado afincadamente, é que pode tornar a escola aquilo que o PSD e o CDS querem que ela seja: uma fábrica de produção de ignorantes!
A ideia tem agora um novo episódio. Pires de Lima queria introduzir o empreendedorismo na escola. Os grupos parlamentares do PSD e do CDS querem introduzi-lo nas Associações de Estudantes. Um projeto de resolução apresentado por estes partidos diz que “na organização interna das Associações de Estudantes, poderá ser incentivada a criação de departamentos relacionados com o Empreendedorismo”. Fazer, portanto, da escola, uma fábrica de competitividade e de responsabilização individual.
Num filme recente de Pablo Larraín, conta-se a estória do referendo que levou os chilenos a decidir se queriam manter Pinochet no poder, ou se queriam uma alteração política. No princípio do filme, ainda estão os partidários do Sim e do Não a afinar as suas campanhas, mensagens e estratégias de marketing... Veem-se os partidários de Pinochet a ensaiar a narrativa para o povo chileno, exposta assim por um dos personagens dessa clique apoiante da ditadura:
“Vocês têm um sistema em que qualquer um pode ser rico. Não todos. Qualquer um”. E concluía: “Não se pode perder quando todos apostam em ser esse qualquer um”.
Essa cenoura que foi, inclusive, a cenoura do neoliberalismo, é muito parecida com a do empreendedorismo. É feita da mesma hipocrisia. Vender a ilusão de que qualquer um pode conseguir, sabendo de antemão que a maior parte deles não o conseguirão. Mas saber que, competindo dessa maneira, o povo se desune e nunca encontrará outro culpado que não ele próprio.
Para quê introduzir o Empreendedorismo na Escola? Para fazer dos jovens cidadãos mais ativos? Fazer dos jovens pessoas mais capazes de se integrarem na sociedade e no mercado de trabalho?
Não, é para os ensinar a ser competitivos entre si; é para os ensinar o individualismo; é para os ensinar que não há empregos certos nem carreiras, apenas o 'cada um que se desenrasque', apenas a precariedade do 'projeto e da ideia para o projeto'.
É uma mentalidade que querem impor aos alunos. Uma mentalidade que falha redondamente nos números: a maior parte dos projetos empreendedores vai à falência nos primeiros meses; a precariedade, comprovadamente, não traz benefícios para a vida pessoal ou familiar dos trabalhadores; o empreendedorismo não resolve o problema do desemprego...
Então, porquê apostar nessa barretada? Estar sempre a falar dele? Querer introduzi-lo em tudo o que é sítio?
Porque “Não se pode perder quando todos apostam em ser esse qualquer um”. Assim, dividindo, fragmentando, isolando, colocando todos contra todos, eles nunca perdem o poder!
Comentários
Pois eu acho que se deve
Pois eu acho que se deve manter. Não há melhor maneira de os alunos se darem conta da treta que isso é. Vão querer que alguém lhes explique o que é o empreendedorismo, e, como ninguém vai conseguir, vão tirar daí as devidas ilações.
O empreendedorismo 'a
O empreendedorismo 'a primeira vista, parece-me uma boa ideia. O problema reside na forma de capitalismo que queremos na sociedade. Estamos a viver desde sempre um capitalismo desumano, em que o salario e' desigual entre os varios escaloes de uma empresa, e normalmente entre a massa de trabalhadores de uma empresa, e apenas um ou alguns sao patroes dessa empresa. Fala-se em capitalismo 'etico, em que empresas se comprometem com o bem-estar dos trabalhadores e a sua comunidade. Mas existe desigualdade de salarios dentre os varios escaloes e o patrao e' um ou dois ou alguns acionistas. O que a nossa sociedade carece e' de um capitalismo social e 'etico, em que cada trabalhador seria ao mesmo tempo patrao e empregado da empresa, criando periodicamente rotacao do posto de trabalho, teriao todos os trabalhadores o mesmo numero de acoes da empresa (ex. um empregado que neste periodo estivesse a empacotar bolachas, no proximo periodo seria o gerente ou diretor da empresa). Claro que o trabalhador teria de ter (ou evoluir para) o ensino universitario e estar sempre em formacao curricular e academica. Para isso e' preciso mudar a forma do sistema de ensino e a pessoa deixar de ser egoista, e pensar coletivamente, para bem de todos.
O empreendedorismo, em
O empreendedorismo, em sentido amplo do termo, além de ser a melhor ferramenta contra o desemprego e importante gerador de renda, hoje é exigido em qualquer relação de trabalho (intra-empreendedorismo), seja no governo, nas empresas, nas atividades autônomas, no terceiro setor, bem como é uma atitude pessoal que coloca o indivíduo como co-responsável pelo meio em que vive.
Além do empreendedorismo, conceitualmente entendido sob a perspectiva empresarial, do mercado de trabalho, do contexto capitalista, a atitude empreendedora pode ir além desse contexto. Fala-se hoje em empreendedorismo social, atrelado às questões de sustentabilidade ambiental, bem como, nas ações solidárias de organismos, ONG,s, associações de moradores, cooperativas e demais formas de desenvolvimento comunitário. Até mesmo grupos políticos e de militantes, sejam eles liberais, marxistas, direitistas, esquerdistas (ou qualquer outra designação dicotômica e maniqueísta que se queira dar) não conseguem se organizar, agir e subsistir se em seu meio não houver lideranças, integração e atitude empreendedora para colocar em práticas as visões de mundo. A liderança e o empreendedorismo caminham juntos. Seria resumir demais o tempo associá-lo somente ao aspecto empresarial / capitalista.
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