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O incómodo da Venezuela
Tem acontecido amiúde: a Direita, indignada, a vociferar sobre a situação da Venezuela, como se fazê-lo criasse, de alguma forma, um incómodo para o Bloco. Aproveito assim esta oportunidade para dizer que não é. O que incomoda, na verdade, é a forma enviesada como a Direita esbugalha os olhos perante certo tipo de abusos, mas prefere cerrá-los para outros, talvez até mais graves. Exemplo?
Angola e Venezuela. Ambos os países estão a sofrer as consequências da monocultura do petróleo, em crise devido à queda dos preços. Em ambos, o petróleo - e em Angola também os diamantes - deu azo a redes de corrupção, que se alimentam das rendas da extração de recursos naturais, propriedade dos respetivos povos. Em ambos, a qualidade da democracia deixa muitíssimo a desejar, com crescente repressão sobre quem se lhes opõe. Mas também há diferenças.
Angola é uma ditadura. José Eduardo dos Santos, nomeado pelo MPLA em 1992, nunca enfrentou eleições nominais para a Presidência. A repressão é uma constante, tendo culminado com as prisões políticas de vários jovens, cujo crime foi ler um livro. Na última década, o país cresceu a uma média de 7%, mas a mortalidade infantil é a oitava maior do Mundo e um terço das crianças morrem subnutridas. "Enquanto a elite angolana usa o rendimento do petróleo para comprar ativos no estrangeiro, em Angola as crianças passam fome" lê-se num relatório da ONU.
Chávez foi eleito em 1998, em 2000 e 2006, com expressas maiorias populares, com um programa de combate à pobreza e ao domínio externo sobre os recursos venezuelanos. Parte disto foi conseguido. Através das "missões", pagas com dinheiro do petróleo, a pobreza extrema reduziu-se substancialmente (quase metade), e a literacia aumentou. Mas o Governo da Venezuela cometeu erros graves: retirou poderes ao Parlamento, diminuiu a democracia, permitiu a corrupção em volta do petróleo e foi incapaz de construir uma rede de serviços públicos alicerçada numa economia diversificada. A Revolução Bolivariana degrada-se a olhos vistos.
Não me custa nada condenar a falta de democracia na Venezuela. Mas não me peçam que confunda o que não é confundível, ou que compreenda quem se indigna com Caracas mas tolera Luanda.
Comentários
Pois, não causa incómodo mas
Pois, não causa incómodo mas deve ter doído. Mas, já que estamos em maré de engolir sapos e quebrar tabus, para quando um comentário indignado sobre a peregrina idéia da CML, expropriar os imóveis de um cidadão, contra a sua vontade e pelo preço que a CML bem entende ... para construir um templo islâmico, com o dinheiro dos contribuintes ?
É que se em vez de um templo islâmico se tratasse de um templo católico, já tinha vindo tudo abaixo sob o peso da indignação acumulada, abaixo-assinados, manifs etc..
Depois, não é a CML que tem de tomar decisões sobre construção de templos, são as comunidades dessas religiões, mas aí pagam os valores de mercado pelos edificios que pretendem adquirir para o efeito e com dinheiro saido dos seus bolsos.
Já agora seria bom saber se a CML pretende construir uma madrassa ao lado da mesquita.
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