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O comentário único e a democracia limitada

O coro do comentário único, o seu Presidente da República e a PAF (na verdade a PAV – Portugal à Venda), tem agora uma nova (na verdade muito velha) teoria. A teoria da democracia limitada.

Segundo ela, até podemos ter eleições, cada um pode expressar as suas ideias, votar em que lhe der na gana, mas no fim do Governo devem fazer parte sempre os mesmos, os partidos do chamado “arco da governação” (na verdade do “arco da corrupção”).

Bloco e PCP até podem representar quase 20% dos eleitores, terem um milhão de votos, mas sofrem de uma espécie de incapacidade natural para terem qualquer papel na definição do Governo da República.

Até há poucos dias o argumento era exatamente o contrário. Não passavam de partidos de protesto que se recusavam a assumir responsabilidades em qualquer solução governativa.

O comentário único vive mal com a realidade. Os factos dizem-nos que nunca a direita teve um resultado tão baixo. A coligação de direita perdeu a maioria absoluta. Perdeu cerca de 12 pontos percentuais. Perdeu mais de 730.000 votos. Perdeu 22 ou 23 deputados. Um elevado número muito de portugueses que votaram PSD ou CDS em 2011 (um em cada quatro), abandonou agora do voto à direita, manifestando uma condenação da governação do PSD-CDS e uma condenação das políticas de austeridade. A base de apoio da direita encolheu.

Que ingratidão depois de quatro anos de governação tão democrática…

Os portugueses ousaram colocar a direita em minoria.

Vem aí a Frente Popular, o PREC, o gonçalvismo…

E caso a ameaça se concretize, o comentário único já aponta possíveis respostas, tipo golpe de estado em versão “light”. O ataque dos “mercados”, uma intervenção musculada da União Europeia sob a orientação de Schauble, uma boa chantagem do Banco Central Europeu… (não ficava bem pedir já um 28 de Maio… ou um salvador de Santa Comba Dão).

Sobre o/a autor(a)

Professor e historiador.
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