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Não pode ficar tudo na mesma
O interminável verão deste ano mostrou como o nosso país está tão impreparado para lidar com um futuro, que já é o presente, de extremos climáticos. Não são apenas os meios de combate disponíveis, é isso e tudo o resto. O planeamento florestal que não existe, e a predominância do eucaliptal; os planos municipais de defesa da floresta contra incêndios não executados ou sequer aprovados; o sistema de comunicações arcaico; a desestruturação das redes de comando da Proteção Civil; os concessionários das estradas (Ascendi), ou responsáveis pelas infraestruturas elétricas (EDP), que há décadas não cumprem as suas obrigações de limpeza de combustível florestal.
O atual Governo tem responsabilidades, mas o tiro ao alvo das culpas fáceis deixará de lado todas as outras deficiências, acumuladas ao longo de décadas, nas autarquias, na Proteção Civil, na política florestal e também nos privados. Quando tudo falha, é o Estado que falha.
No próximo dia 21 haverá um Conselho de Ministros extraordinário, marcado para analisar os incêndios de Pedrógão. O que se exige ao Governo neste momento é que faça mais que mudar nomes, e que, para além do apoio às vítimas, apresente um plano de reestruturação do próprio dispositivo nacional de combate e prevenção de incêndios.
Os relatórios que agora conhecemos, e que se somam aos que já existiam, e os técnicos que ouvimos apontam caminhos claros: um corpo profissionalizado de defesa da floresta composto por sapadores florestais e bombeiros; a inclusão de cientistas da floresta e da meteorologia nas equipas de prevenção e combate; alteração da estrutura fundiária e da composição da malha florestal, com redução da área de eucalipto e cedência mínima ao abandono; reestruturação da Proteção Civil, que deve ter cadeias de comando experientes, claras e definidas; responsabilização e apoio às autarquias nos planos de defesa da floresta; meios de apoio às populações em caso de emergência. Finalmente, e não de menor importância, regras claras para acabar com o negócio dos incêndios, dos interesses da madeira aos dispositivos de combate.
Não pode ficar tudo na mesma, e as mudanças têm de ser tão estruturais como os problemas e deficiências que as justificam. É isso que deve ser exigido ao Governo. E em tempos de discussão orçamental, é de esperar que estas escolhas tenham o seu reflexo na distribuição dos meios financeiros do Estado.
Artigo publicado no “Jornal de Notícias” em 17 de outubro de 2017
Comentários
Mariana, estou plenamente de
Mariana, estou plenamente de acordo consigo.
Mas algo urge e é mais importante, que é educar o povo. A mentalidade do povo. Existem prioridades sim, e uma delas é responsabilizar quem não respeita as regras, que estão lá. Porque temos regras, mas não são cumpridas.
Responsabilizar mentalidades de quem trabalha em gabinetes das autarquias cujo único objetivo é tratar do ambiente, e não trata. Exigir fiscalização. Atuação.
Exigir pró-atividade. Porque neste momento não existe na Proteção Civil. O "deixa andar" por parte ANPC tem de acabar.
Mas sou um homem de fé. Acredito que agora sim. Se não tudo, algo vai mudar. Infelizmente à custa de mortos. De milhares de hectares perdidos sem sentido nenhum.
Mas antes de tudo, mudar o "chip" de mentalidades. Começar um trabalho a sério é começar a educar o povo. A prevenir.
Atentamente
Nuno Pacheco
http://www.esquerda.net
http://www.esquerda.net/artigo/incompetencia-do-governo-nao-pode-encontr...
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