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Ministro da Defesa declara guerra ao Alto Minho!

O Ministro da Defesa ao intentar a liquidação dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo está a fazer uma verdadeira declaração de guerra ao Alto Minho.

Há uns meses atrás, creio que a propósito da privatização dos correios, a deputada Ana Drago numa das suas intervenções na Assembleia da República procurou desmistificar a ideia de que o estado é mau gestor enunciando a evidência de que os maus gestores eram pessoas concretas, com nome, que entre a política e a gestão das empresas do estado se movimentam sem nunca serem verdadeiramente responsabilizadas. O país conhece bem demais esta realidade. Por incompetência, desleixo ou envolvimento pessoal noutros interesses que não os do estado, é comum vermos o que é de todos gerido de forma desastrosa ou em proveito do interesse de alguns.

Na base está uma lógica política que perverte o interesse público, ancorada nos partidos que nos têm governado e em grandes interesses económicos e financeiros. Este fenómeno perpassa toda a sociedade portuguesa e cresce exponencialmente quando as grandes oportunidades de negócio espreitam ou podem ser criadas com um pouco de habilidade.

Cinicamente, tornou-se comum os maiores promotores e beneficiários desta situação apresentarem-se prontos a resolvê-la. De que forma? Abandonando definitivamente o interesse público! Em nome de um saber de experiência feito! A sua incompetência ou ignomínia atestam que o estado não tem vocação para exercer atividades económicas e financeiras estratégicas. As suas contas comprometidas com os donos do mundo explicam que o estado não tem vocação para exercer responsabilidades sociais. As suas mentiras e falta de vergonha demonstram que o estado não tem vocação democrática. Resumindo: o estado que sobra parece estar especialmente vocacionado para agenciar grandes interesses privados!

O recente caso dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo é um clamoroso exemplo disto mesmo, agravado por um conjunto vasto de circunstâncias. Porque estes estaleiros, para além da última unidade de construção de navios do país com uma importância estratégica indiscutível à escala europeia, são um elemento chave no que resta da economia da região. Pelo impacto direto em seis centenas de famílias e indireto pelas consequências óbvias no comércio local. Mas também porque a sua organização produtiva desde há muitos anos balanceada com recurso a subcontratações cria condições de sobrevivência a muitas pequenas empresas da região.

É enorme, o desastre económico e social que o fim desta empresa representa. Ninguém tem dúvidas disso. Mas há mais consequências. Os Estaleiros de Viana são muito mais do que uma unidade industrial comum. São, desde meados do século passado, um importantíssimo polo formador de competências profissionais na origem de muito do que de melhor se faz na pequena indústria metalomecânica e até noutros sectores de atividade. E são, sem qualquer dúvida, parte integrante da cultura regional ligada ao mar, com força identitária e motivo de orgulho de todos os vianenses e altominhotos.

Por tudo isto, o Ministro da Defesa ao intentar a liquidação dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo está a fazer uma verdadeira declaração de guerra ao Alto Minho.

Sobre o/a autor(a)

Designer. Membro da concelhia do Bloco de Esquerda de Caminha.
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