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Insurgência em 2014
A ideia de que o acordo com a Troika era positivo para o país já não pega para ninguém. Após dois anos e meio de austeridade ficamos mais endividados, mais desempregados, mais desiguais, mais emigrados, mais pobres.
O ano de 2013 foi o ano da maior manifestação de descontentamento da nossa história democrática, que juntou mais uma vez um povo em torno da Grândola Vila Morena, desta vez em uníssono contra a Troika. O governo optou por ignorar o grito de revolta. Ministros foram assediados, ignoraram. Rimo-nos deles, por já não terem credibilidade nenhuma e manterem o rumo do endividamento e da submissão aos interesses da Europa dos Poderosos, continuaram a ignorar. Achámos a certa altura que a coligação estava a ruir, que era irrevogável, mas Cavaco Silva e a Troika apaziguaram os ânimos. Continuou tudo na mesma.
Se nos ignoram, vamos continuar a manifestar-nos pacificamente? Vamos resignar-nos a fazer greves pontuais, sem nenhuma mudança de rumo no dia seguinte? Vamos continuar a mostrar o nosso descontentamento de forma serena e civilizada?
No final do ano seguem os ataques aos nossos bens, aos correios, à educação, e o rumo do governo endurece constantemente, com um orçamento de estado ainda mais violento para o povo e mais condescendente com os donos de Portugal. A coligação no poder continua a agir impune e nós, que estamos a perder as nossas casas, a nossa escola pública, os nossos hospitais, as nossas pensões, a nossa humanidade no trabalho, o nosso direito a um emprego, desvalorizados a cada dia que passa, vamos manter a contenção?
Os governantes e patrões que têm dirigido o país nas últimas décadas só irão recuar no dia em que sentirem que os seus interesses económicos estão ameaçados. Vão ter de enfrentar muitas desestabilizações, interrupções, bloqueios, conflitos sociais crescentes, enfim, recear muito mais perdas para os seus bolsos e ameaças às suas vidas para serem varridos e podermos finalmente mudar de rumo.
Mas não é só manda-los embora. É preciso construir a alternativa à Troika, mostrar que uma moratória à divida e uma auditoria cidadã são possíveis, que políticas socialistas estão ao nosso alcance. Só com a soma das ações diretas e a força dos movimentos populares podemos credibilizar uma política pós-Troika que defenda o progresso social e o bem estar coletivo.
Insurge-te. Bom 2014.
Comentários
Efectivamente as nossas
Efectivamente as nossas manifestações de descontente não produzem nenhum efeito na classe dominante. São eles que rim de nos e não a inversa.
A pergunta é: de que maneiras vamos lutar como classes oprimidas para derrotar a classe dominante em democracia?
Temos muitas maneiras de levar a luta a outros patamares, onde sempre outras dinâmicas próprias descolam. Por exemplo, as greves de um dia demonstraram já que não servem. Muito bem, então vamos fazer greves continuadas de uma ou duas semanas por sector de actividade económica. Uma semana os bancos fechados, ou os portos inactivos, ou as policias em greve. Campanhas nacionais e regionais para não pagar a agua, a luz; campanhas de boicote sistemático a pombas de combustível mais caras que as outras, aos grandes supermercados, etc.
Greves onde seja o bolso dos ricos que sofre. Essa é a única forma de convivência que eles percebem: a imposição do mais forte. Exactamente aquela que eles aplicam hoje ao conjunto dos portugueses. Democraticamente claro.
O problema está na decisão política sobre este nível de luta que deve ser tomada pelos dois partidos de esquerda. Mas será que o PCP e o BE estão preparados para caminhar já não como partidos "institucionais" mais como partidos revolucionários?
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