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Greve dos Mineiros: A Luta é Contínua! (parte 2)

O eco da luta também se faz entre os trabalhadores. Se antes tinham dúvidas, a justiça das reivindicações trouxe à greve uma maior adesão de trabalhadores, principalmente entre os trabalhadores de superfície.
Protesto em Lisboa, junto ao ministério do Trabalho, dos trabalhadores da Somincor

Cumpriram-se os 5 dias do 2º período de greve, do plano de luta dos trabalhadores da Somincor, S.A., pela humanização dos horários de trabalho e pelo acesso à reforma antecipada por desgaste rápido dos operadores das lavarias e adstritos, e restantes pontos reivindicativos que a fundamentam.

Coincidentemente, durante o período de 6 a 11 de novembro, assinalou-se no dia 7 o 100º aniversário da Revolução Russa, que derrubou a autocracia instalada. Será este marco histórico da luta de classes inspirador para a luta que se vive na mina de Neves-Corvo? O tempo o dirá.

Tal como uma vacina, esta segunda dose de greve, parece começar a fazer efeito e, a nível orgânico, notam-se mudanças na atuação da administração e quadros superiores, quer na estratégia de abordagem aos trabalhadores, quer mesmo de reorganização interna de responsabilidades e funções.

As progressivas transformações dos tradicionais padrões produtivos em formas de produção cada vez mais flexíveis, pela introdução de novos conceitos de gestão, de reengenharia e de novos projetos, acentuam não só a tendência da fragmentação da produção na empresa mas procuram, também, promover a divisão e enfraquecimento do coletivo de trabalhadores.

Entre o primeiro e o segundo período de greve (3-7 de outubro e 6-11 novembro, respetivamente) aconteceram algumas mudanças subtis, sendo que a mais visível foi a colocação de vedações e portões no espaço onde, historicamente, se ganharam importantes lutas, empurrando o piquete de greve para espaço público fora da empresa. Isto, por si só, denota que a união dos trabalhadores tem eco nas posições da administração. Também, mais visível foi a presença de forças policiais junto do piquete de greve. Tão visíveis que, por pouco, alguns grevistas em piquete não foram atropelados por um carro da GNR, estando ainda por apurar se o “desvario” do condutor foi por conta própria se a mando de alguém.

O eco da luta também se faz entre os trabalhadores. Se antes tinham dúvidas, a justiça das reivindicações trouxe à greve uma maior adesão de trabalhadores, principalmente entre os trabalhadores de superfície.

Nas minas de Aljustrel, a ausência de respostas deu lugar a um pré-aviso de greve a começar às 6h00 do dia 22 e prolonga-se até às 8h30 de dia 26 de novembro.

Este eco, que brada por justiça, desde o mais profundo Alentejo, ressoa também nas ruas e gabinetes de Lisboa. No dia 10, os trabalhadores manifestaram junto do Ministério do Trabalho e Segurança Social as suas reivindicações e uma delegação do STIM, não tendo sido recebido pelo ministro Vieira da Silva – quiçá por estar comprometido com promessas antigas com o sindicato que ainda não cumpriu; ou qualquer outro secretário de estado, entregou neste ministério o documento reivindicativo e a exigência de que o Sr. Ministro assuma a sua responsabilidade estatal na mediação deste conflito.

O Bloco de Esquerda tem acompanhado de perto a greve dos “Mineiros”, através das estruturas locais: Núcleo concelhio de Almodôvar e de Castro Verde; regional: Coordenadora Distrital de Beja; e nacional: Coordenadora Nacional do Trabalho, Grupo Parlamentar e Comissão Política.

E os trabalhadores reconhecem este esforço do partido, acolhendo de bom agrado a visita da deputada Isabel Pires, no dia 6 de novembro, ao piquete de greve, assim como o acompanhamento do José Casimiro – Coordenador da CNT - e do Francisco Alves – Membro da Mesa Nacional e dirigente sindical da Fiequimental - na manifestação em Lisboa.

Curiosamente, o mesmo tipo acolhimento não foi concedido quando os recém eleitos presidentes de câmara do PS: Nelson Brito – CM Aljustrel, António José Brito – Castro Verde, António Bota – Almodôvar; visitaram no último dia o 1º piquete de greve em outubro.

Após a greve, as mudanças acontecem

A solidariedade entre Mineiros e Operadores de Lavarias, as mais significativas massas de trabalhadores em greve, é a “cola” que dá força a esta luta. A empresa sabe-o e tenta, de todas as formas, quebrar esta união: direções e chefias de topo multiplicam-se em contactos individuais e com pequenos grupos de trabalhadores, elementos-chave, aliciando-os ao abandono da greve, “sabe-se lá a troco de quê”.

Promovem-se campanhas de “informação”, palestras de [des]motivação, e todo um conjunto de ações que visam derrotar a coesão dos trabalhadores. Lançam sobre a direção do STIM as culpas do conflito e, ardilosamente, jogam nas suas mãos o peso que a empresa tem no emprego na região, incutindo a ideia de que o insucesso na implementação das transformações que a empresa pretende, põe em causa o seu próprio futuro. Em outras palavras, de uma forma encapotada ameaçam com o desemprego e simultaneamente jogam nas mãos dos trabalhadores essa responsabilidade.

Talvez porque a empresa está nas mãos da canadiana Lundin Mining, alguns tiques e métodos de gestão, de negociação e mediação de conflitos que parecem saídos de um qualquer filme de negócios de Hollywood. Procuram-se de todas as formas arredar o sindicato das negociações, desautorizando-o ou não o reconhecendo como representante legítimo em determinadas partes do processo. Individualizam-se os contratos de trabalho. Procura-se praticar toda a espécie de arbitrariedades para aos poucos partir o cimento que une e proteje os trabalhadores: O Contrato Coletivo de Trabalho.

De projeto em projeto, de jazigo em jazigo mudam-se as vontades, as expetativas de vida útil da mina, só não muda a necessidade de “ajustar” a vida dos trabalhadores. Aconteceu antes, no início da exploração, aconteceu sempre que se “descobria” um novo jazigo. Como num dos mais recentes: Semblana – “descoberto” em 2010 e classificado como a maior descoberta dos últimos 22 anos, com potencial para estender a vida útil da mina até 2030, que captou alguns milhões de investimento estatal e que levou os mineiros ao atual regime horário, de um momento para o outro, em 2014, morreu…

O interesse da empresa está agora voltado para o projeto ZEP – Zinc Expansion Project que nem tem o direito de ser designado em língua portuguesa e que, centra, fundamentalmente nas velhas argumentações para as mudanças de horário proposto: “Está mau…”, “Está longe…”, “Os câmbios…”, “O teor…”

Até ao próximo período de greve, a realizar em dezembro em data a anunciar, decorrerão reuniões de negociações, muita tinta há-de correr, e muitos mais boatos hão-de surgir. Mas esperam-se sobretudo ventos de mudança para melhor e que já agora, no dia 4 de dezembro, Dia dos Mineiros – e de Santa Bárbara sua padroeira (para os crentes) conquistado como dia de feriado especial na última luta dos mineiros, já não haja necessidade de avançar com o 3º período de greve.

Poucos mais cabiam no salão

Onde as negociações, ou melhor, a falta delas conduzirá a uma paralisação de trabalhadores, é em Aljustrel, nas empresas da esfera da mineira Almina - Minas do Alentejo (Antiga Pirites Alentejanas), EPDM – Empresa de Perfuração e Desenvolvimento Mineiro e Urmáquinas.

Um grande número de trabalhadores destas empresas, reunidos em Plenário na sede do STIM no dia 18, em resoluto coro decidiu dizer BASTA!

Mandataram o STIM, como seus representantes, defender os seus interesses nestas empresas e decidiram que, na ausência de respostas, marcariam um período de greve em torno das reivindicações “melhoria dos salários e demais matérias de expressão pecuniária”, pela “melhoria das condições de saúde e segurança no trabalho”, pela “humanização dos horários de trabalho na lavaria” e pela “normalização das relações de trabalho na empresa, contra a repressão sobre os trabalhadores”. Protestam ainda “pelo direito à negociação e pelo reconhecimento do sindicato representativo dos trabalhadores”.

A ausência de respostas deu lugar a um pré-aviso de greve a começar às 6h00 do dia 22 e prolonga-se até às 8h30 de dia 26 de novembro.

Uma e outra luta em curso, os votos de sucesso!

Almodôvar, 16 de novembro 2017

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