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Festa Brava, Sem Garraiada

Não é simples perceber por que razão se tem mantido a Garraiada da queima das fitas do Porto por tanto tempo.

Em nome dos estudantes organiza-se todos os anos uma atividade baseada no sofrimento e exploração animal, financiada pela FAP (Federação Académica do Porto), com fraca adesão ao evento, apesar ser cada vez maior a sua contestação. Para muitos de nós, sempre pareceu absurda a ideia de uma queima das fitas que integra uma garraiada. Absurdo porque as estruturas estudantis deveriam servir para promover muita coisa, que não isto. Absurdo porque festa pode muito bem ser uma boa festa sem sofrimento animal.

Bem sabemos que uma garraiada é diferente de uma tourada, mas também sabemos que a garraiada provoca stress, lesões durante o espetáculo e no transporte do animal. Acrescido a isto, é um espetáculo degradante de humilhação, que nos envergonha. Como tantas outras tradições, erradas e que nos compete combater até que caiam, esta vem subsistindo, apesar da crescente contestação estudantil. No ano passado a pressão pública aumentou: a petição pelo fim da garraiada ultrapassou as 3.000 assinaturas e a votação em Assembleia Geral da FAP resultou na aprovação por apenas um voto das associações presentes.

Este ano, depois de uma forte mobilização em torno de uma nova petição, que ultrapassou as 5.500 assinaturas1 em poucos dias, o debate voltou fora e dentro das faculdades. Os efeitos da mobilização fizeram-se sentir e chegam também pela imprensa, com o conselho de veteranos a retirar o apoio que sempre deram à atividade organizada pela FAP. Começa a ser difícil negar que esta atividade não representa a vontade da maioria dos estudantes.

Também não restam grandes dúvidas de que a garraiada é uma falsa tradição estudantil, culturalmente forjada para gáudio económico de uma indústria tauromáquica que se alimenta deste tipo de iniciativas. Que se tenha perpetuado tanto no tempo, apesar de tanta justa contestação deve fazer-nos pensar sobre a qualidade da democracia num meio estudantil que ainda cultiva pouco formas de participação democrática de que precisamos e que devemos reinventar! Por outro lado, o processo de consciencialização do inaceitável não apareceu agora. Implicou a determinação de muita gente para uma ideia simples e forte (de tão primária) mas que se soube construir e ampliar: não tem piada nenhuma puxar o rabo a um bezerro numa praça de touros. Parece simples, não é?

Não foi um caminho fácil e também não está garantido, a votação em Assembleia Geral não foi feita e o retrocesso ainda pode acontecer. É então preciso que o movimento em torno desta questão não perca o fôlego agora. Nos próximos tempos será votada na FAP o programa da Queima. Espera-se que a Garraiada não seja incluída no programa. Caso seja, exige-se duma vez por todas que a proposta seja chumbada. É fundamental continuar a mobilizar o debate e afirmar, com toda a convicção, que não poderão continuar a organizar uma atividade contra a opinião dos que dizem representar-nos.


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