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Extra-terrestres sobre o Líbano

A SIC foi à base aérea israelita mais utilizada na actual guerra. De lá saem os caças F-16 que todos os dias despejam toneladas de bombas sobre o Líbano. O correspondente Henrique Cymerman entrevistou alguns dos pilotos que, "por motivos de segurança", não mostraram os rostos frente às câmaras. Pareciam extra-terrestres, com aqueles enormes capacetes, viseira escura opaca e tubos de oxigénio saindo da máscara.

Não se sabe quais eram os "motivos de segurança" que impediam que aquelas faces fossem reveladas: se o medo de serem identificados e tornarem-se alvos de um atentado, ou simplesmente a vergonha de assumirem a responsabilidade pela maioria dos 360 civis libaneses mortos até agora, um terço dos quais crianças.

Os pilotos dizem as banalidades habituais. Que "cumprem as ordens", que atingem os alvos que lhes são destinados, que se concentram no cumprimento da missão. Subserviente, o repórter não pergunta sobre as crianças mortas, as 18 pessoas queimadas vivas, a infra-estrutura civil destruída. Não: a julgar pelo que dizem aqueles homens de cabeças gigantes, tudo, para eles, não passa de uma espécie de videojogo pilotado no ar condicionado do cockpit de um caça F-16.

Muito asséptico. Os generais encarregam-se de dar a desculpa habitual: danos colaterais. Mas então onde está a retórica dos bombardeamentos "cirúrgicos", das armas hi-tec, do último grito da precisão electrónica? Foi engolida pela brutalidade dos números: das 360 mortes libanesas, mais de 95% foram civis (apenas morreram oito guerrilheiros do Hezzbollah). A milícia xiita, com as suas armas ultrapassadas, matou 20 soldados e 15 civis israelitas (dados do Washington Post).

Como diz Robert Fisk, quando é que vamos parar de falar essas palavras obscenas, "danos colaterais", e dizer a frase correcta: Crime contra a Humanidade?

Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
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