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Caixa: sensibilidade e bom senso

O tema Caixa Geral de Depósitos instalou-se e já vinha com spin montado. A Direita quer acender uma fogueira a partir da simples hipótese de recapitalização do banco público e não falta quem queira lançar mais achas.

Entre críticas justíssimas e ganância privatizadora, a polémica instala-se. Trago quatro singelos apontamentos.

1. A necessidade de recapitalização da Caixa é normal. A crise desvalorizou os ativos e as exigências regulatórias de capital apertaram muito. O BPI (9% dos ativos do sistema), reforçou o seu capital em 1400 milhões. O BCP (15% dos ativos) reforçou em 4500 milhões. A Caixa (24% dos ativos) aumentou o capital em 850 milhões. O acionista único da CGD, o Estado, recebeu 2700 milhões em dividendos na década antes da crise. Agora deverá também recapitalizar o seu banco.

2. A Caixa nem sempre foi bem gerida e serviu muitas vezes interesses particulares. Veja-se o caso do Resort de Vale do Lobo, em que os milhões correram para Horta e Costa ou Hélder Bataglia, da ESCOM (Grupo Espírito Santo). O buraco foi aberto por Armando Vara (PS). Mas o presidente seguinte, Faria de Oliveira (PSD), assegurava que era "um dos maiores e melhores resorts da Europa e faz sentido estar com o melhor". Todas estas decisões deviam ser investigadas e os responsáveis punidos.

3. A Caixa não pode ser um banco igual aos outros. Temos que exigir competência e conhecimento técnico, porque não a queremos gerida por boys. Mas também devemos exigir serviço público bancário. Por isso, a Administração não deveria ter mais membros pagos a peso de ouro. Sobretudo quando os seus trabalhadores continuam com salários e carreiras congeladas e muitos enfrentam agora a ameaça das "rescisões amigáveis". Não podem ser sempre os trabalhadores a sofrer as consequências de más decisões estratégicas dos seus administradores.

4. Mais do que nunca, o país precisa de um banco público sólido. É agora que podemos pensar e mudar a orientação e o critério da CGD, para melhorar o seu papel de financiador privilegiado da economia e de potenciador do investimento e do emprego.

A Caixa deve ser recapitalizada. As suas contas devem ser transparentes e as investigações necessárias devem ser realizadas. Façamos o debate do seu papel na economia, com posições fortes que impeçam que esta seja ocasião para semear a desconfiança contra o banco mais importante do país. É esse jogo perigoso de quem sempre quis o fim da Caixa pública.

Artigo publicado no “Jornal de Notícias” em 14 de junho de 2016

Sobre o/a autor(a)

Deputada. Dirigente do Bloco de Esquerda. Economista.
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