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A base das Lajes e as oportunidades perdidas

Os terceirenses, e açorianos em geral, terão de optar sobre que futuro pretendem dar à base das Lajes ou se preferem continuar dependentes do futuro que outros lhe pretendem dar.

É cada vez mais claro, e já não é só o Bloco de Esquerda que o afirma, que a utilização militar, no quadro dos interesses norte-americanos, que se confundem com os interesses da NATO, é incompatível com qualquer investimento civil com peso significativo para a economia. Desta vez, foi o insuspeito cientista Carvalho Rodrigues que confirmou que a Terceira está prestes a perder uma oportunidade de vulto, devido à presença militar norte-americana.

Carvalho Rodrigues veio confirmar a incompatibilidade entre uma presença militar, nos moldes daquela que é (e será) a presença norte-americana, e a instalação de uma plataforma para lançamento de satélites, naquela que é uma utilização que tem uma afinidade com interesses militares (basta ver a relação a relação próxima entre a NASA e os interesses militares norte-americanos).

Se, como tudo indica, a ideia é não mexer nesta equipa que parece não se cansar de perder (destruição de postos de trabalho), então a Terceira está condenada, enquanto estiver agarrada a uma presença militar norte-americana, a ser, muito provavelmente, a única ilha da Região a perder todas as oportunidades de rentabilização da sua posição geoestratégica.

Podem continuar a desviar a atenção pública para as poucas (ou nenhumas) contrapartidas previstas para a Região e para a ilha Terceira, no âmbito das negociações do Acordo bilateral entre os EUA e Portugal, para a atitude dos militares portugueses na base das Lajes - que têm funcionado como “bodes expiatórios” ou como mensageiros (com ou sem excesso de zelo) ao serviço dos interesses dos arrendatários que mais parecem donos da base das Lajes - ou para o desvio das escalas técnicas da aviação civil para Santa Maria, numa manobra do mais perverso bairrismo, quando a base das Lajes, se convertida para uma utilização civil plena, tornaria as escalas técnicas numa atividade mais secundária ou acessória.

Para os açorianos, e sobretudo, para os terceirenses só há dois caminhos possíveis: ou assumem, de uma vez por todas, que se resignam à presença militar norte-americana, cujo único proveito serão 300 ou 200 postos de trabalho (não garantidos), sem direito a qualquer contrapartida direta, não fosse o país membro-fundador da NATO, e que tal condição impossibilitará a atração de investimento (nacional ou estrangeiro) dependente da nossa posição geoestratégica (incluindo o porto da Praia da Vitória), ou procuramos alternativas civis que, a partir de um plano de investimento público se criem condições para atrair investimentos avultados com efeitos reprodutivos para a economia da ilha e da Região, mas sem inquilinos que nos empatem a vida.

Pelo desenrolar dos acontecimentos, parece-me que não teremos um grande entreposto logístico de mercadorias no porto da Praia da Vitória, nem mesmo um porto dotado com capacidade para abastecer navios com GNL, nem um aeroporto plenamente civil. Vamos, sim, ter, no melhor dos cenários, um terminal para receber navios cruzeiro no porto da Praia da Vitória e, no futuro, quem sabe, um mini aeroporto civil do outro lado da ilha para receber, sem constrangimentos, a aviação civil e com, quase toda a certeza, um offshore na Praia da Vitória que nos trará grandes multinacionais sedeadas em caixas postais… ah… e ainda teremos que pagar, como membros da NATO, os custos da base NATO das Lajes.

Artigo disponível em acores.bloco.org

Sobre o/a autor(a)

Deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Membro do Bloco de Esquerda Açores. Licenciado em Psicologia Social e das Organizações
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