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A amnésia de Cristas

Assunção Cristas rejeita a tese de que foi “uma indutora da plantação de eucalipto”. Mas foi.

Em entrevista ao site eco.pt, Assunção Cristas rejeita a tese de que foi “uma indutora da plantação de eucalipto”. “Isso não é verdade, pura e simplesmente”, sublinha a atual líder do CDS.

Mas foi. Aliás, o preâmbulo do antigo Regime Jurídico das Ações de Arborização e Rearborização (RJAAR) é bem explícito sobre o sentido das alterações legais adotadas pelo governo PSD/CDS-PP, onde pontificava Cristas como Ministra da Agricultura.

A citação de um excerto do preambulo desse diploma é longa, mas vale a pena: “Relativamente ao Decreto-Lei n.º 175/88, de 17 de maio, que estabelece o condicionamento da arborização com espécies florestais de rápido crescimento, e respetiva regulamentação, impõe-se a sua revogação na medida em que os seus objetivos ficam integralmente assegurados pelo presente decreto-lei e pelos regimes de planeamento florestal e de avaliação de impacte ambiental, que passam a enquadrar as autorizações de arborização e rearborização com todas as espécies florestais, incluindo o eucalipto, sejam ou não exploradas em regimes silvícolas intensivos e independentemente das áreas a ocupar. (sublinhado nosso).

O RJAAR do governo PSD-CDS-PP veio, pois, equiparar todas as espécies florestais, abrindo a porta às espécies de crescimento rápido e vincando, logo no preâmbulo do diploma (não fosse passar despercebido a alguém…), “incluindo os eucaliptos”.

A afirmação de Cristas, de que o “seu” RJAAR era muito simplesmente uma base de dados, é, portanto, pura mentira.

Mas o seu esforço de branqueamento dessa página negra da política florestal vai ainda mais longe.

A líder do CDS-PP descobriu agora um suposto “consenso na comunidade científica de que a questão não está nas espécies, mas sim na gestão florestal, nos povoamentos, se são ou não acompanhados, se são antigos ou desregulados.”

Falso, mais uma vez. A questão está nas espécies e no ordenamento.

Há, por exemplo, espécies exóticas cujo plantio é pura e simplesmente proibido. E o consenso é o de que o eucalipto é particularmente inflamável e muito propagador do fogo, por vezes, projetando-o a longas distâncias. Quem combate os incêndios no terreno sabe-o perfeitamente.

Tudo se agrava, é certo, quando se trata de povoamentos mono espécie, em áreas contínuas muito vastas. Mas esse é problema que nunca afligiu a senhora.

Temos, portanto, uma Cristas a dar voz a falsidades e aos interesses das celuloses, apenas interessadas em promover as espécies de crescimento rápido, em especial o eucalipto, desprotegendo a floresta e as populações dos territórios rurais. Nada de novo, afinal.

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro técnico de comunicações. Dirigente do Bloco de Esquerda
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