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Ainda vamos a tempo

À medida que o capitalismo nos impõe evoluções tecnológicas a um ritmo vertiginoso que o planeta não consegue suportar, temos de parar para pensar.

A mais recente catástrofe nuclear no Japão voltou a levantar o fantasma dos perigos evidentes deste tipo de energia e deveria também fazer alargar o nosso leque de críticas, nomeadamente na questão das energias e gestão de recursos. E neste sentido é importante lembrar repetidamente que o fim do petróleo é algo cada vez mais inegável por muito que muita gente assobie para o lado. É compreensível, que para muitas pessoas os transportes movidos por combustíveis fósseis sejam a “única” forma de assegurar a sobrevivência, mas que – assumamos – têm os dias contados.

Neste sentido, à medida que o capitalismo nos impõe evoluções tecnológicas a um ritmo vertiginoso que o planeta não consegue suportar, temos de parar para pensar. E pensar nas energias “alternativas” que este mesmo sistema nos propõe, que nos oferece do seu próprio sangue para curar as feridas. Biocombustíveis, automóveis eléctricos, etc... são apenas formas de oferecer mais veneno embrulhado em papel verde para nos descansar a consciência. Outra fórmula venenosa foi a do desenvolvimento sustentável.

Conceito curioso este que me faz pensar onde é que se põe em causa esta lógica suicida do capitalismo. Em vez de tomar o frasco de cicuta só tomo meio e o impacto negativo é menor. Nesta lógica aparece a linha de alta velocidade ferroviária, que se apresenta como uma solução e alternativa ao poluidor avião, mas que não oferece nenhuma alternativa à lógica do crescimento infinito que suga os finitos recursos naturais do planeta.

Apenas alguns conceitos que nos devem fazer pensar. Em qualquer estrutura de linha ferroviária como esta, tudo o que vem implicado na construção deixa uma dívida ecológica de cerca de 80 anos. Quer dizer que o impacto deixado pela infraestrutura é demasiado grande para o considerarmos rentável sob qualquer ponto de vista.

No seu trajecto o comboio de alta velocidade gasta 9 vezes mais energia do que o comboio normal. E não esquecendo as questões sociais, perguntemos a quem serve este comboio. Estamos a falar de dinheiros públicos (considero os fundos europeus como tal) que financiarão um meio de transporte destinado a servir executivos que apenas dispõem da pressa para executar os seus negócios de forma mais eficiente. Pois de resto, num país precário não vejo quem possa pagar preços tão absurdos como os que se avizinham. Mais económico, por agora fica o poluente avião.

Finalmente, regressando ao início do texto. Ainda vamos a tempo de questionarmos muitas coisas enquanto se volta a levantar um fantasma medonho quanto à energia que move o TGV. Esta é a minha dúvida: de onde é que ela para fazer mover este monstro ferroviário? E ali, a seguir a Badajoz vejo o ondular de muitas bandeiras do anti-nuclear, de lutas passadas que se poderão reacender. Mesmo a jeito está a central nuclear de Almaraz, muito útil para pôr em marcha este comboio que esperamos não nos traga dissabores...

Sobre o/a autor(a)

Activista anti-racista
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