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Abril e o grito dos “inocentes”

Os ataques à classe política não são novos, remontam aos Estado Novo (leia-se fascismo em algumas poucas coisas diferente do hitleriano, mas fascismo).

Estes ataques, provinham e justificavam-no os fascistas com as "desordens" oriundas da implementação da Republica (cujos 100 anos vamos comemorar no próximo 5 de Outubro), e nada melhor para pôr fim a essas "desordens" que acabar com os políticos e com os respectivos partidos, deixando ao carismático fascista mor e seu grupelho militar o direito de governar, que se chegou a arvorar de divino com a protecção da Igreja a quem foram restituídas as grandes propriedades imobiliárias).

Era por isso que nas escolas entre os retratos dos ditadores estava o crucifixo, era por isso que o lema máximo da ditadura era Deus Pátria e Família e com este lema enchiam prisões como o Aljube, Peniche e Caxias.

Com a sua polícia politica prendiam, torturavam, matavam e no dia seguinte tinham um Cerejeira que em confissão lhes perdoava e garantia um lugarzinho no Céu.

E não quero com isto generalizar a participação da igreja, nesta afronta aos direitos humanos, muitos padres católicos foram expulsos por não concordarem com as orientações da cúpula da igreja, alguns conheceram as prisões da policia política, outros tornaram-se refugiados políticos em países europeus

Com esta política garantiram e fomentaram a palavra de ordem a política para os políticos, afastando o povo de eleições, proibindo os partidos, ocupando os sindicatos e colocando nas direcções destes homens da confiança do fascismo.

O povo respondeu como pôde, continuaram a realizar-se manifestações, greves e mais prisões, mas não houve um cruzar de braços, principalmente porque até à década de 60 o PCP soube resistir ás prisões e manter uma direcção e um aparelho de revolucionários clandestinos e não só.

Depois da década de 60, outras organizações apareceram, minimamente organizadas e nalguns casos juntamente com o PCP, noutros contra ele por discordâncias ideológicas, mobilizaram contra a guerra colonial e contra o regime.

Pelo meio ficaram mais de 13 mil mortos na guerra colonial só do lado português, milhares de feridos com deficiências permanentes, milhares de desertores que não quiseram combater numa guerra injusta.

A tudo isto há que juntar mais de dois milhões de emigrantes que procuraram países europeus, na sua maioria de forma clandestina, mas onde acabaram por se legalizar, encontrar trabalho, proteger os filhos mais novos de uma participação na guerra colonial e de certa forma contribuir para o crescimento nacional, com o envio de divisas, pois todos tinham o sonho de que o fascismo um dia seria derrotado.

Felizmente, a 25 de Abril de 1974 tal sonho tornou-se realidade e com todos os defeitos de uma alteração de regime que começou com um golpe de Estado e se tornou numa revolução, revolução que se constitucionalizou em Abril de 1976 e que apesar de todas as alterações ainda é hoje uma das constituições europeias mais democráticas.

No ano e mês que se comemora o 36º aniversário de Abril, é estranho (ou não) que apareçam "inocentes" num suposto "silêncio" a atacar de novo a classe política (e falo em atacar e não em criticar, (a crítica é legitima mesmo que não seja justa), e principalmente a lançar um ataque xenófobo (qual Hitler contra os Judeus) aos imigrantes que sofrem e trabalham no nosso país de Abril.

Se o princípio de que cada imigrante "rouba" o emprego a um nacional fosse levado à prática, mais de 5 milhões de portugueses estariam a "roubar" empregos em outros países, da Europa e do Mundo.

É interessante e lamentável ver mais uma vez, como a igreja, instituição para quem os homens são todos iguais e criados à imagem de Deus, não se demarca destes pseudo-católicos, que sistematicamente atacam os imigrantes e os apoios aos mais pobre dos mais pobres.

Temos que estar atentos, pois os pseudo-silêncios de pseudo-inocentes, não são novos, não são silêncios, nem vêm de inocentes, cheiram a mofo e a fascismo.

Nota importante:

No século passado, houve no mundo outras ditaduras, supostamente de sinal contrário, sem o apoio da igreja (mas em tudo semelhantes no que dizia respeito às liberdade individuais, políticas e sindicais) e que os povos levaram mais tempo a derrotar, mas derrotaram em 1989, restam alguns vestígios pendurados por arames.

Alguns entenderam o fim destas ditaduras como o fim da História e o triunfo do capitalismo sobre o Socialismo, desiludam-se, o verdadeiro Socialismo está na forja está no aglutinar de revoltas, de lutas contra as injustiças, de lutas por uma democracia económica e social que acabe com as cíclicas crises do capital, que redistribua a riqueza criada pelos que trabalham, que evite que no fim de cada crise os ricos fiquem mais ricos e os pobres mais miseráveis.

Só o espírito de Abril, só a Democracia e o Socialismo podem criar um mundo melhor.

Abril Sempre
 
 

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Coordenador da CT da Volkswagen AutoEuropa. Deputado municipal no concelho da Moita.
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