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2010: Autoeuropa que futuro?

2010 não será ainda o ano em que a Autoeuropa, cuja capacidade disponível é superior a mais de 180.000 carros ano, entrará nos rácios de lucro que a VW exige, com a produção prevista de 94.000 unidades (52% da capacidade instalada), fruto do lançamento do modelo que se seguirá à Sharan. No entanto, é preciso dizer que os trabalhadores com este ou qualquer outro número de produção, estão sempre ocupados com cerca de 97% da carga de trabalho, o que significa que se a produtividade não é maior, é por falta de automação e de encomendas e nunca por causa da flexibilidade e desempenho dos Trabalhadores da Autoeuropa.

2010, vai ser o ano do fim do MPV como já referi e haverá um interregno até ao arranque do novo produto, da parte da Administração esperávamos 2 coisas que o diálogo permanente já garantiu:

1º Redução dos períodos inactivos, para evitar longas semanas de incertezas. Para isto é necessário lançar o novo produto o mais rápido possível, os trabalhadores têm feito enormes sacrifícios, desde que foi decidido prolongar a vida da actual Sharan para que as obras possam continuar, têm trabalhado em condições como eu já referi à Administração do Grupo VW como em mais fábrica nenhuma da Europa se trabalharia, pelo que merecem tal antecipação.

2º Que os salários dos trabalhadores abrangidos, (que será a maioria) não sejam afectados por isto, (Lay Off) e felizmente hoje, podemos dizer que não o vão ser em função do sistema de produção conhecido. Foram encontradas formas de formação em linha, formação em sala, aplicação dos Down Days, aumento da produção do EOS e SCIROCCO durante as semanas que variam entre o fim do MPV e a entrada em produção do novo modelo, o que obriga a mais trabalhadores ocupados na produção, bem como o recurso a todas as ferramentas que permitam ultrapassar os dias de hoje sem perder direitos para amanhã.

2010, segundo os dados conhecidos actualmente, poderá levar o desemprego em Portugal a ultrapassar os 12%, qualquer coisa como 700.000 desempregados, os encerramentos de empresas irão continuar, o acesso ao crédito para particulares (compra de carros, casas etc,) e para as empresas (investimento) será mais restrito e caro, os preços dos combustíveis que afectam os custos logísticos, os custos do Gás e da Electricidade irão aumentar aumentando os custos de produção, levando à saída de mais multinacionais, por isso, este vai ser um ano em que a Administração, os Trabalhadores e a Comissão de Trabalhadores vão ser postos à prova, pois será segundo todos os analistas o ano em que a crise económica se irá reflectir com maior impacto.

2010, vai ser o ano em que a Administração vai continuar a procurar aumentar a flexibilidade, para entregar carros mais cedo aos clientes, clientes que pagam os nossos salários.

2010 vai continuar a ser o ano em que a Comissão de Trabalhadores recorda que os Trabalhadores estão sempre disponíveis para trabalhar, mas que semanas de seis (6) dias não são, nem podem ser, semanas normais de trabalho aos ritmos que se trabalha nesta empresa, e recordo que na Autoeuropa, estejam presentes todos os Trabalhadores, ou esteja o absentismo acima da média, no final do dia são produzidos sempre o mesmo numero de carros... no mínimo.

Aos que sistematicamente afirmam ser necessária mais flexibilidade, não me canso de dizer que os trabalhadores da Autoeuropa são os mais flexíveis e polivalentes da VW a nível europeu, e é esse o factor que todos juntos, Administração e Comissão de Trabalhadores temos que saber "vender à casa mãe", para a convencer a continuar a apostar nesta empresa.

2010, vai ser o ano do fim do Contrato Colectivo de Trabalho para o sector automóvel, Contrato que existe desde o inicio dos anos 80 do século passado, e cujo processo negocial já dura à vários anos, mas que as entidades patronais têm vindo sistematicamente a boicotar, com esperança na caducidade que o Código do Trabalho permite desde 2003 e que agora requereram.

2010, vai também ser o ano de eleições para a Comissão de Trabalhadores, e logo, a oportunidade de os Trabalhadores escolherem entre aqueles que conjuntamente com eles tudo têm decidido e conseguido nesta empresa, e aqueles que tudo decidem de fora para dentro, com as respostas, alternativas e consequências que todos conhecemos a nível nacional

2010, será, no final do primeiro semestre o ano do lançamento do novo modelo, e só por isso haverá necessidade de criação de postos de trabalho, em primeiro lugar serão admitidos com contrato com a Autoeuropa, os trabalhadores temporários dispensados no inicio de 2009 e que completem com aproveitamento o curso que estão a fazer no centro de formação ATEC. Este trabalho é fruto do envolvimento desde o inicio da Comissão de Trabalhadores com a Empresa, para encontrar soluções, e fizemo-lo, mesmo contra as críticas dos pseudo-defensores dos trabalhadores que caricaturaram esta formação com os argumentos do costume mas sem soluções.

2010, no último quadrimestre, trará de novo um período negocial, (o actual acordo interno termina a 30 de Setembro), sendo um ano de dificuldades a nível mundial, será no entanto um ano em que a empresa não pode esquecer o lançamento com sucesso do SCIROCCO o esforço dos trabalhadores durante todo o ano de 2009, e o sucesso que será, acreditamos, o lançamento do novo produto.

Neste momento de crise internacional do sistema capitalista, com reflexos no sector automóvel e na Autoeuropa em particular, sou dos que não repudio a afirmação de que estamos todos no mesmo barco, (a verdade é que uns no Porão, casa das máquinas ou convés, outros, como sempre na ponte) mas todos em alto mar e debaixo de uma enorme tempestade, devemos por isso, todos, tudo fazer para que o barco chegue a bom porto, e aí chegados, já em terra firme, sem risco de afundamento, reclamar a manutenção da equipa e a compensação pelo esforço despendido.

2010, tal como todos os anos desde 1994, (altura da eleição da primeira Comissão de Trabalhadores), será mais um ano em que as relações laborais existentes na Autoeuropa não cairão do céu, serão, tal como anteriormente, fruto de um diálogo permanente entre a Comissão de Trabalhadores e a Direcção de Produção, bem como com a Direcção de cada uma das áreas, e também, no mínimo uma vez por mês, com a Administração Geral da Empresa.

A Comissão de Trabalhadores continuará a emitir informação periódica sobre todas estas reuniões e sobre tudo o que é interesse geral, continuará a envolver os Trabalhadores em tudo o que os afecta. e, essencialmente, continuará a respeitar as decisões democraticamente assumidas em referendos internos. Será assim que conseguiremos manter, (eu não tenho medo da palavra) a paz social que esta empresa tem mostrado ao Grupo VW e que no passado valeu investimentos consideráveis, investimentos que queremos que continuem para garantir o Futuro de todos.

2010 tem que ser o ano que faça a diferença, para isso, é necessário que um novo produto, o 4º. seja anunciado pela VW, pois, aos trabalhadores cuja média etária anda hoje na casa dos 37 anos, interessa, mais que saber o futuro imediato, sabê-lo a médio e longo prazo.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Coordenador da CT da Volkswagen AutoEuropa. Deputado municipal no concelho da Moita.
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